Por Clara Machado
Pesquisadores do Instituto Juruá visitaram mais de 100 comunidades ao longo de dois mil quilômetros do rio Juruá se debruçando na seguinte pergunta. Onde se vive melhor: dentro ou fora das áreas protegidas? O estudo, liderado por João Campos-Silva, avaliou os principais serviços presentes nas comunidades rurais – como eletricidade, saneamento e acesso a meios de comunicação – o nível de empoderamento comunitário e o desejo pessoal dos moradores de saírem do campo para viver em centros urbanos. Os resultados do estudo intitulado “Sustainable-use protected areas catalyze enhanced livelihoods in rural Amazonia” foram publicados no periódico Proceeding of the National Academy of Sciences of the United States of America – PNAS.
No contexto do Médio Juruá, onde as comunidades localizadas em áreas protegidas, como a Reserva Extrativista do Médio Juruá e a Reserva de Desenvolvimento Sustentável Uacari, estão organizadas e participam de arranjos bem-sucedidos de conservação comunitária, os resultados foram muito claros. Comunidades rurais em áreas protegidas possuem maior acesso a serviços como comunicação digital, educação básica, eletricidade, presença de comércio local e barcos para transporte e comercialização da produção.
Enquanto comunidades fora de áreas protegidas praticam uma economia de subsistência, as comunidades dentro dessas áreas também desenvolvem cadeias produtivas de recursos naturais, como é o caso do manejo do pirarucu e da comercialização de óleos vegetais, além de possuírem maior renda familiar.
As áreas protegidas demonstraram ser um fator relevante para a permanência de famílias no campo. Enquanto 58% dos adultos entrevistados fora de áreas protegidas relataram ter desejo de migrar para centros urbanos, apenas 5% dos moradores de áreas protegidas apresentaram o mesmo interesse.
Infelizmente, muitas comunidades fora das áreas de reserva ainda vivenciam a coerção de elites locais poderosas, os herdeiros dos barões da borracha do século XIX, que limitam o uso dos recursos naturais pelos comunitários por se dizerem donos das terras. Apesar de áreas protegidas de uso sustentável não serem uma condição imprescindível para o bem-estar social e ecológico na Amazônia e apresentarem suas próprias contradições, elas facilitam o desenvolvimento de atividades em conservação, como é o caso bem-sucedido do manejo do pirarucu, que gera renda e melhores condições de vida para comunidades enquanto conserva e recupera espécies fundamentais para o ecossistema da floresta.
As áreas protegidas são importantes para a proteção da biodiversidade e para o desenvolvimento sócio-econômico da Amazônia, porém, não devem ser tratadas como ilhas isoladas, o que inevitavelmente leva a conflitos. Os autores do estudo sugerem que sejam encaradas como laboratórios, onde modelos de gestão sustentável de recursos naturais são testados e fortalecidos para, em seguida, extrapolarem suas fronteiras, expandindo esses modelos para as regiões não contempladas por reservas.