Neste trabalho são apresentadas recomendações e procedimentos de campo práticos para a condução de levantamentos e monitoramentos de médios e grandes vertebrados terrestres em florestas tropicais, através de transectos lineares. Esta metodologia é aplicável a qualquer espécie de vertebrado florestal de médio e grande porte passível de observação direta, cuja detectabilidade intrínsica e comportamento espacial não violem as premissas teóricas de censos de fauna baseados em transecção
linear (veja abaixo). Os princípios apresentados aqui focam principalmente nos aspectos práticos de execução do método da transecção linear, que é amplamente utilizado, e não na discussão dos prós e contras dos diferentes métodos de censo, ou diferentes estimativas de abundância populacional. Logo, este documento deve ser visto como uma complementação, e não uma substituição das discussões existentes sobre o método de transecção linear aplicados à fauna de vertebrados de florestas tropicais (Janson and Terborgh, 1980; Struhsaker 1981; Brockelman and Ali, 1987; Whitesides et al.,1988; Buckland et al., 1993; Greenwood, 1996; Southwell, 1996; Peres 1999a; Marshall et al. 2008; Kühl et al. 2008), as quais provêm testes de campo do
nível de acurácia das diferentes técnicas de censo.
Neste documento também são destacadas algumas recomendações de bom senso para o melhoramento dos procedimentos de campo, no sentido de minimizar ou prevenir alguns desvios sistemáticos de amostragem ou erros frequentes observados em trabalhos de censo. Isto é fundamental, já que a robustez e a acurácia dos modelos de estimativa de abundância são altamente dependentes da qualidade dos dados de campo, e nenhuma sofisticação na etapa da análise de dados após a coleta pode corrigir alguns equívocos comuns de amostragem de campo. Estes princípios de amostragem são resultado da experiência adquirida de um programa de censo de aproximadamente 30 espécies da fauna silvestre conduzidos na Amazônia brasileira, peruana e colombiana ao longo dos últimos 25 anos (1984-2010: Peres 1988, 1989a,
1990, 1993a, 1997a, 1997b, 2000, Peres & Dolman 2000; Peres & Nascimento 2003, Peres & Palacios 2007; Endo et al. 2010). Este conjunto de procedimentos de campo foi repetido e reinado por um programa de censo de longa duração e deve servir como um protocolo de amostragem simples e aplicável, útil tanto aos pesquisadores novatos quanto aos experientes que pretendem padronizar o método de amostragem para melhorar sua eficiência, acurácia e comparabilidade.
Esperamos que este documento seja útil para os estágios de planejamento e execução de futuros levantamentos de vertebrados florestais baseados em transecção linear, que vêm se tornando uma importante ferramenta para acessar o status de conservação e a integridade da biodiversidade em regiões de florestas tropicais. Visamos a adoção de protocolos padronizados de censos para futuros trabalhos de campo em florestas tropicais, permitindo a comparabilidade no tempo e no espaço dos diversos levantamentos conduzidos por diferentes grupos de pesquisa, profissionais da área de consultoria ambiental, e gestores de unidades de conservação e da biodiversidade.