A técnica artística ensinada valoriza o conhecimento local e representa nova possibilidade de geração de renda através do uso sustentável dos recursos madeireiros.
Por Clara Machado
O uso da madeira está na vida cotidiana de quem mora na floresta, seja para a confecção de canoas, remos, tábuas para casa até arpões e utensílios domésticos. A madeira é colhida em pequena escala na floresta e trabalhada por mãos habilidosas que carregam um conhecimento específico para que possa, então, ser transformada em itens corriqueiros da vida comunitária.
Pensando nesse público que detém o conhecimento do uso da madeira, o Instituto Juruá, em parceria com a Associação de Produtores Rurais de Carauari (ASPROC), ofereceu o primeiro Curso de Marchetaria no Médio Juruá, que aconteceu entre os dias 24 e 29 de novembro de 2022 na Casa Familiar da Floresta do Campina (CFFC), que fica na Reserva de Desenvolvimento Sustentável Uacari, Carauari (AM). O curso também contou com o apoio da Associação de Produtores Rurais e Carauari (ASPROC) e do ICMBio, através do gestor da RESEX Médio Juruá, Manoel Cunha, que, além de palestrar e contribuir com o planejamento, também participou das aulas.
O curso teve o objetivo de fomentar alternativas de uso sustentável da madeira na região e ampliar a capacidade de geração de renda das famílias ribeirinhas envolvidas. Valorizando o conhecimento prévio dos trabalhadores e trabalhadoras da madeira, como a carpintaria, marcenaria e entalhe, o curso foi direcionado ao ensino da marchetaria que, basicamente, é uma técnica artística para confecção de objetos por meio de cortes em ângulo, encaixe, colagem e refinamento. Dessa forma, cria-se uma nova possibilidade de agregar valor à madeira residual e, assim, gerar renda a partir do manejo florestal sustentável em pequena escala.
Foram 40 horas de capacitação, com cinco aulas teóricas e práticas ministradas pelos mestres Edielson Bezerra e Manoel Silva, da Associação Nov’Arte (Novo Airão – AM). Participaram 28 trabalhadores e trabalhadoras da madeira de 21 comunidades da região do Médio Juruá, representando os territórios da Reserva Extrativista do Médio Juruá, Reserva de Desenvolvimento Sustentável Uacari, Terra Indígena Deni e a Área do Acordo de Pesca de Carauari.
“Os alunos saíram satisfeitos, levando apostilas, Equipamentos de Proteção Individual (EPI) e outros materiais para casa, bem como os artesanatos produzidos, tais como caixinhas, tábuas de cozinha e peças decorativas”, relata Nathalia Messina, analista socioambiental do Instituto Juruá que participou da elaboração e oferecimento do curso.
Durante o curso, foram realizados sorteios de ferramentas e itens de marchetaria, como também a entrega de uma máquina Serra de Meia Esquadria, que oferece cortes ágeis e precisos de peças angulares, ficando a mesma sob responsabilidade, uso e guarda das comunidades.
Ainda de acordo com Nathália, “para maior aproveitamento dos resultados obtidos no curso, a intenção é que esta seja a atividade iniciática de um projeto de intercâmbio da madeira a ser desenvolvido por artesãos, artesãs e organizações de base comunitária do Médio Juruá, com o apoio do Instituto Juruá”.