Comunicação

Várzeas Amazônicas e o Reconhecimento Internacional do Rio Juruá

As zonas úmidas amazônicas são essenciais para a biodiversidade e para milhares de pessoas que dependem desses ecossistemas. O reconhecimento do Rio Juruá pela Convenção de RAMSAR fortalece sua proteção e evidencia sua importância global.

Por Hugo Costa

Complexidade da Paisagem do Rio Juruá, com o canal principal do rio, lagos, paranãs e igarapés. Foto: André Dib

Os ambientes alagados (zonas úmidas) sazonais ou perenes, desempenham um papel crucial na biodiversidade e no bem-estar humano. Esses ambientes, são extremamente produtivos e sustentam uma alta diversidade de espécies. Além disso, são essenciais para milhões de pessoas, fornecendo serviços ecossistêmicos como pesca, purificação da água, regulação hídrica, reciclagem de nutrientes e solos férteis para a agricultura. No entanto, a proteção desses ambientes é desafiadora pois a sua conexão com ambientes acima do nível máximo das águas os torna ameaçados tanto pelas ações antropogênicas terrestres quanto pelas aquáticas. Para enfrentar esse desafio, em 1971, foi assinada a convenção intergovernamental de RAMSAR (nome da cidade iraniana sede) por países membros das Nações Unidas para a proteção e uso das zonas úmidas e seus recursos.

Uma vasta extensão da Amazônia é formada por zonas úmidas que podem ser classificadas de acordo com as suas características climáticas, de solo e das plantas que são encontradas nessas regiões. Seguindo esses critérios, dois grandes grupos podem ser diferenciados: ambientes alagados de nível da água estável e ambientes alagados de nível da água variável. A maioria das zonas úmidas amazônicas são de nível de água variável e estão sujeitas a um pulso de inundação previsível anual que produz a alternância entre períodos de enchente, cheia, vazante e seca. E é nesse contexto que o Rio Juruá está inserido, um rio de água barrenta, de PH neutro, e rico em nutrientes que são carregados dos Andes. Durante o período de enchente, o Rio Juruá alaga uma vasta porção da floresta, que permanece debaixo d’água por cerca de 6 meses; essa floresta sazonalmente alagável recebe o nome de Várzea. Essa alternância entre períodos de cheia e seca e a alta produtividade da água são os principais fatores que tornam as várzeas Amazônicas ambientes únicos para a biodiversidade assim como para a população humana, principalmente as que vivem nas margens do rio.

Pescadores no Rio Juruá. Foto: Hugo C M Costa

Em setembro de 2021, os membros fundadores do Instituto Juruá, prof. Carlos A. Peres, João Vitor Campos-Silva, Joseph Hawes (Joe) e os pesquisadores colaboradores Lisa Davenport e Whaldener Endo (Óleo), enviaram à convenção de RAMSAR um dossiê para que o Rio Juruá fosse incluído como uma área de interesse internacional para a conservação envolvendo a Terra Indígena Deni, a Reserva de Desenvolvimento Sustentável Uacari, as Reservas Extrativistas Médio Juruá e Baixo Juruá, bem como toda a faixa de várzea que conecta essas áreas protegidas. Os principais argumentos que sustentaram a inclusão do Rio Juruá na convenção vem dos vários anos de pesquisas e também de escuta dos moradores indígenas e não indígenas da região. Eles destacam a complexidade da paisagem com muitos lagos, igarapés e paranãs, a presença de espécies animais ameaçadas, além da pesca manejada que vem recuperando as populações de pirarucu e tambaqui, que são espécies importantes comercialmente, mas também do peixe miúdo, que confere segurança alimentar para as famílias. A convenção RAMSAR conta com 27 localidades no Brasil, sendo quatro no estado do Amazonas: O Parque Nacional de Anavilhanas, a Reserva de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá e o Rio Negro e o Rio Juruá como Sítio Ramsar Regional

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