Comunicação

Comunidades ribeirinhas ampliam em até 86× a área de proteção na Amazônia — estudo apoiado pelo Instituto Juruá aponta caminhos para recompensá-las

MANAUS/CARAUARI (AM) — Um novo estudo realizado na região do Médio Juruá mostra que a vigilância ambiental feita por comunidades ribeirinhas expande de forma massiva a proteção de ecossistemas amazônicos, muito além dos lagos onde ocorre o manejo do pirarucu. A pesquisa — que contou com o apoio do Instituto Juruá — revela que, para cada hectare diretamente vigiado, até 86 hectares de várzea e floresta de terra firme acabam sendo efetivamente protegidos por efeito “contágio” da vigilância territorial.

Principais achados

  • Pegada de proteção multiplicada: a área efetivamente protegida é, em média, 8× maior que a área dos lagos com vigilância direta; considerando os deslocamentos do pirarucu na cheia (área funcional), esse efeito sobe para 36×; somando a proteção incidental de florestas de terra firme adjacentes, o total chega a ~86× por comunidade.
  • Escala do esforço comunitário: o estudo abrange 14 comunidades que protegem 96 lagos ao longo do rio Juruá, com ~109 mil pirarucus adultos contabilizados.
  • Custo baixo, ônus alto: a proteção efetiva custa em média US$ 0,95 por hectare/ano, valor arcado quase integralmente por famílias de baixa renda — o que impõe perdas relevantes na renda líquida comunitária.
  • Solução proposta: criação de Pagamentos por Serviços Ambientais (PSA) para remunerar de forma justa a proteção territorial já realizada, com potencial de escala para beneficiar centenas de comunidades e milhões de hectares na Amazônia.

Por que isso importa

A conservação baseada na comunidade vem recuperando populações de pirarucu e melhorando a biodiversidade aquática. O estudo demonstra que o impacto vai além da água: ao fechar o acesso de forasteiros na várzea, as comunidades coíbem pesca predatória, caça e extração ilegal de madeira nas florestas vizinhas. Esse “efeito guarda-chuva” amplia a proteção dos habitats e contribui para a segurança alimentar e os meios de vida locais.

Papel do Instituto Juruá

O Instituto Juruá apoia tecnicamente e institucionalmente o manejo comunitário do pirarucu no Médio Juruá, fortalecendo acordos de pesca, monitoramento participativo, formação de guardas e a governança local. Os resultados reforçam a importância de parcerias duradouras entre comunidades, organizações da sociedade civil, universidades e órgãos públicos.

Próximos passos

A equipe sugere a implementação de um PSA co-desenhado com as comunidades, transparente e financeiramente sustentável, para reconhecer e remunerar quem protege a floresta no dia a dia. O mecanismo poderia ser calibrado por quilo de pescado legalmente manejado, garantindo equidade, previsibilidade e permanência da proteção territorial.

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