O encontro promovido pelo IPÊ teve a participação de aproximadamente 70 pessoas e discutiu dados do monitoramento de espécies para propor novas interpretações e ações para a sua conservação.
Por Bernardo Oliveira
A região do Médio Juruá pode ser considerada um modelo para a Amazônia. São muitos os projetos que tornam o local algo diferente do que se vê em outros cantos do bioma. E o mais importante: essas iniciativas surgiram de quem realmente vive na floresta e usufrui de seus recursos naturais. São essas pessoas que tocam ações, como o manejo do pirarucu, a conservação de quelônios e a extração de óleos vegetais. E, ao mesmo tempo, organizam-se para melhorar a qualidade de vida da população local. A conservação e o desenvolvimento sustentável orientam todo o trabalho.
Foi pensando em auxiliar nesse processo, protagonizado por ribeirinhos da Resex Médio Juruá e da Reserva de Desenvolvimento Sustentável Uacari, AM, que o Instituto de Pesquisas Ecológicas (IPÊ), o ICMBio, a Secretaria de Estado de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável do Amazonas (SDS/AM) junto a parceiros realizaram o Encontro de Saberes na comunidade Pupuaí, Resex Médio Juruá. O encontro aconteceu nos dias 11 e 12 de novembro de 2021 e teve como objetivo o diálogo entre ribeirinhos, com seu conhecimento tradicional, pesquisadores, com o conhecimento científico, e gestores, com o conhecimento jurídico-administrativo. A proposta era trocar informações para melhorar ainda mais a execução desses projetos de manejo e conservação ambiental.
Leonardo Rodrigues, Coordenador Pedagógico do Projeto de Monitoramento Participativo da Biodiversidade (MPB), explica que o encontro foi pensado porque as instituições perceberam que as etapas de debate, discussões e repasse das informações obtidas pelo monitoramento estavam deixando a desejar.
“Começamos a pensar alternativas para fazer essa conversa sobre as informações produzidas no monitoramento. Com isso, surge a proposta do Encontro de Saberes sobre o monitoramento da biodiversidade, onde pegamos os dados e as análises produzidas pelos pesquisadores e dialogamos junto aos gestores e monitores as interpretações sobre essas análises.”, disse Leonardo em entrevista.
Para Leonardo, o encontro propôs novos olhares sobre essas informações, de forma que a partir desse diálogo entre o saber tradicional, o saber científico e o saber jurídico-administrativo possa se chegar a novos entendimentos e novos usos para as informações do monitoramento. Assim, torna-se possível que esses dados alcancem uma sociedade mais escondida, para além desses atores chave do monitoramento.
Foram trabalhados três protocolos de monitoramento: o automonitoramento da pesca, o do pirarucu e o de quelônios. A proposta do monitoramento é produzir informações que possam ser utilizadas pela gestão e pelos moradores, como também em pesquisas científicas.
“O conjunto de informações acumuladas nesses três protocolos foi trazido e apresentado e conseguimos criar algumas novas interpretações, clarificar algumas dúvidas lado a lado: dúvidas da gestão, dúvidas da pesquisa, dúvidas dos monitores e agora vamos elaborar algumas ações de questões que percebemos que são pontos de atenção para a tomada de decisões, os próximos passos daqui para frente.”, conta Leonardo.
O encontro recebeu aproximadamente 70 pessoas, entre moradores, gestores e pesquisadores, e cerca de 50% deles eram jovens e mulheres. “Isso é muito positivo para o monitoramento, para a gestão, para as comunidades. Estamos falando de um diálogo de saberes e há conhecimentos que são específicos, há olhares que são específicos. Quando conseguimos um público mais diverso e mais bem representado, temos um diálogo de saberes mais amplo e que permite múltiplos olhares sobre as questões que estão sendo debatidas.”
“O Médio Juruá é um espaço importante de exemplo e referência para a participação social, em busca da conservação da sociobiodiversidade nas unidades de conservação. Pensando nacionalmente, aqui é um lugar diferente e com isso a gente consegue ter conversas profundas, ricas. Eu saio muito satisfeito.”, complementa Leonardo. Este trabalho no Médio Juruá e em diversas outras regiões resultou em um livro, disponível gratuitamente para download.