Pesquisador João Campos-Silva, do Instituto Juruá, lideranças locais e parceiros da área estão cocriando um conceito de sociobioeconomia, com uma abordagem que integra aspectos sociais, econômicos e ambientais, fundamental para o desenvolvimento sustentável da Amazônia.
Por: Júlia Franzoi e João Vitor Campos-Silva
Através de uma bolsa de estudos de um projeto financiado pela Fulbright, o pesquisador João Vitor Campos-Silva, do Instituto juruá, irá passar dois meses na Universidade de Indiana sob a supervisão de Eduardo Brondízio, Professor do Departamento de Antropologia da Indiana University – IU (Bloomington, IN, EUA), para desenvolver uma pesquisa sobre a aplicação da sociobioeconomia na Amazônia.
Em pergunta sobre o tema da sociobioeconomia a Campos-Silva, também conhecido como JB, ele explica:
O conceito
A Bioeconomia surge como uma força transformadora na Amazônia, e as iniciativas que promovem perspectivas bioeconômicas para o desenvolvimento sustentável despontam como apostas promissoras para garantir um futuro mais equilibrado e próspero para este bioma essencial. No entanto, o termo “Bioeconomia” abrange diferentes conceitos e pode gerar diferentes interpretações. Os conceitos dominantes utilizam o termo “bioeconomia” defendendo o uso de altas tecnologias aplicadas a produtos de recursos naturais. Outros consideram a Bioeconomia como o desenvolvimento de cadeias de valor baseadas na biodiversidade, como açaí, cacau, guaraná e outros produtos. Existe também a perspectiva da bioecologia, em que os processos ecológicos podem catalisar a produtividade, sustentando os serviços ecossistêmicos, como os modelos agroflorestais.
Independentemente do conceito utilizado, não há clareza sobre (i) o papel dos povos indígenas e comunidades locais nesses arranjos, (ii) como os benefícios e os custos serão distribuídos, especialmente para os povos tradicionais, e (iii) como os projetos de bioeconomia podem realmente garantir a proteção da biodiversidade. Portanto, o desenho de um novo conceito de Bioeconomia Amazônica que leve em consideração a diversidade cultural, cosmologias, epistemologias, dinâmicas sociais e as necessidades de conservação é imperativo para o futuro da região.
A sociobioeconomia é uma abordagem que integra aspectos sociais, econômicos e ambientais, sendo fundamental para o desenvolvimento sustentável da Amazônia. Ao promover o uso responsável dos recursos naturais, ela oferece alternativas econômicas que valorizam a biodiversidade local sem comprometer os ecossistemas. Isso é crucial para a preservação de áreas florestais e para a manutenção dos serviços ambientais, como a regulação do clima e a conservação da água, que são essenciais tanto para a região quanto para o planeta. Nesse contexto, a sociobioeconomia tem um papel chave em conciliar conservação e desenvolvimento.
Outro aspecto importante da sociobioeconomia na Amazônia é o seu potencial de melhorar a qualidade de vida das comunidades locais. Ao valorizar o conhecimento tradicional e apoiar práticas sustentáveis, ela oferece oportunidades de geração de renda por meio de atividades como o manejo sustentável de produtos florestais não madeireiros (como açaí, castanha e plantas medicinais). Isso fortalece a autonomia das populações indígenas e ribeirinhas, garantindo que elas possam participar de cadeias produtivas que respeitam suas culturas e territórios, ao mesmo tempo em que ajudam a conservar a floresta.
Além disso, a sociobioeconomia pode contribuir significativamente para a mitigação das mudanças climáticas, pois promove modelos econômicos que não dependem da destruição da floresta, como a agroecologia e o ecoturismo. Essas atividades ajudam a capturar carbono e a manter a floresta em pé, ao mesmo tempo em que diversificam as economias locais e diminuem a pressão sobre áreas florestais. Dessa forma, a sociobioeconomia representa uma alternativa viável para o desenvolvimento sustentável da Amazônia, equilibrando a conservação dos recursos naturais com o bem-estar social e econômico das populações que dependem da floresta.” (João Vitor Campos-Silva)
O projeto
Nesse projeto, Campos-Silva e Brondízio irão analisar criteriosamente os custos e os benefícios observados na cadeia do pirarucu, uma das cadeias mais bem consolidadas da Amazônia, para gerar subsídios para o fortalecimento das cadeias da sociobiodiversidade.
Os pesquisadores, em parceria com mais de 100 lideranças locais, ativistas e outros pesquisadores também irão coproduzir um conceito Amazônico para sociobioeconomia baseado nas aspirações sociais e vozes dos territórios locais, além de ingredientes sociais culturais, econômicos e institucionais que são importantes para garantir o direito social dos povos nos arranjos de bioeconomia.