Comunidades ribeirinhas lideram projetos inovadores que promovem a conservação ambiental e transformam vidas na Amazônia.
Por Andressa Scabin
Seis anos atrás um grupo de pesquisadores(as) que desenvolvia suas atividades de pesquisa no Médio Juruá resolveu colocar no papel um sonho. Esse sonho foi sendo alimentado por uma relação cada vez mais forte de parceria e confiança com lideranças locais. Essas lideranças, que fizeram história no movimento socioambiental na região, buscavam parceiros para ajudá-las na luta pela conservação da biodiversidade e pela melhoria da qualidade de vida dos povos da floresta.
E foi assim que nasceu o Instituto Juruá, a partir de um anseio tanto de seus fundadores quanto de lideranças locais do Médio Juruá para a criação de uma organização que pudesse combinar o conhecimento acadêmico, construído pelas pesquisas científicas desenvolvidas na região, com o conhecimento tradicional, acumulado por gerações de moradores que viveram e ainda vivem em uma relação bastante profunda e interdependente com esse território.
Os desafios para a consolidação desse sonho foram imensos! Pouco depois da fundação do Instituto Juruá, começávamos a planejar as linhas de ação e maneiras de captar recursos para colocar essas ideias em prática, mas o mundo todo foi assolado pela pandemia do Covid-19. A pandemia “jogou um balde de água fria” em muitos de nossos planos, impedindo que mantivéssemos a nossa presença física no território. Contudo, o acesso, cada vez maior à Internet em algumas comunidades, permitiu que seguíssemos com uma comunicação virtual, o que nos levou a conduzir algumas atividades e formações de maneira remota.
Aproveitamos esse período para fortalecer a nossa comunicação e investimos energia na elaboração de projetos e formações internas.Em novembro de 2021, com nossa equipe e os moradores do Médio Juruá vacinados, partimos em uma grande expedição de retomada. Foi uma expedição bastante simbólica, na qual realizamos diversas atividades, contando com grande parte de nossa equipe em campo. Este foi um momento muito importante de renovação de energia e planos junto com nossos companheiros e companheiras do Juruá.
Depois disso, nossa equipe foi crescendo. Novos projetos importantes foram aprovados e colocamos em prática muitos dos treinamentos que fizemos para o fortalecimento da organização. Um marco importante na consolidação da organização foi a criação dos programas dentro de nossas quatro frentes de atuação: 1) Pesquisa Científica; 2) Educação e Treinamento; 3) Governança Territorial e Sociobioeconomia e 4) Áreas Protegidas e Justiça Social.
Nosso programa de Pesquisa Científica já capacitou mais de 30 pessoas entre trabalhos de conclusão de curso, dissertações de mestrado e teses de doutorado, resultando na publicação de 44 artigos revisados por pares, que foram citados por outros 1260 trabalhos. O Programa de Voluntariado, que hoje está em seu sétimo ciclo, já recebeu mais de 80 voluntários(as)(es) de 16 estados brasileiros e de mais 2 outros países. Já o programa Cientistas da Floresta envolveu aproximadamente 40 moradores locais em atividades de pesquisa, ofereceu curso de formação para aproximadamente 100 professores comunitários e um curso prático de Biologia da Conservação para 20 estudantes. Além disso, o programa de Fortalecimento Comunitário tem apoiado 12 organizações locais e já promoveu 8 cursos para mais de 235 pessoas. As atividades da frente de Governança Territorial e Sociobioeconomia têm contribuído com o ordenamento pesqueiro, a proteção comunitária, o monitoramento e o uso sustentável de cerca de 190 lagos e 27 praias, através do trabalho conjunto a comunidades da floresta e organizações de base que protagonizam os esforços. A frente de Área Protegida e Justiça Social é a mais nova das linhas de atuação do Instituto e atualmente visa co-construir, com as comunidades locais e o poder público, um modelo conceitual de área privada de conservação e uso sustentável de base comunitária.
Embora saibamos que todos esses números ilustram o impacto positivo que nossas ações têm promovido nos territórios, são os depoimentos de quem está nessa jornada há anos (antes mesmo desse sonho sair do papel e virar realidade) que ilustram o potencial de transformação da vida das pessoas que fazem essa história acontecer.
“Apesar de todas as dificuldades, trabalhar no Juruá é poder fazer o que eu gosto e tem sido muito gratificante. Fiz muitos amigos ao longo desse rio, e sempre tivemos todo apoio dos moradores das comunidades quando tivemos problemas com nosso barco. Sempre fiz o possível para garantir que cada um retornasse em segurança para suas famílias” Almir Nascimento, Responsável Logístico do Instituto Juruá e Capitão do Hyleia há 17 anos.
“Aprendi a viver e valorizar cada lugar como único, a cada nova curva do Juruá, novas amizades e às vezes alguns perrengues, mas fazer parte da construção desse sonho, dessas lutas e conquistas é gratificante. O Hyleia é minha segunda casa, e é maravilhoso compartilhar essa jornada com cada colaborador que passou e deixou a sua contribuição de gratidão com amor e empatia” Antônia Raimunda, carinhosamente conhecida como Tonha, Auxiliar Logística, Auxiliar de Pesquisa e Gestora da Loja do IJ em Carauari.
Atualmente nossa equipe é composta de 24 pessoas. Mas, na verdade, essa família é muito maior quando incluímos os diversos voluntários(a), pesquisadores associados(as), consultores, apoiadores, bem como todos os companheiros e companheiras do rio Juruá e de outras bacias Amazônicas para as quais estamos estendendo nossas ações. E o que tem nos animado muito nessa jornada é que, cada vez, mais nossa equipe está se diversificando e se Amazoniando. Queremos aproveitar todo o privilégio que temos de termos uma organização jovem e cheia de energia para dar mais visibilidade aos esforços e conquistas dos povos da floresta e para que, cada vez, mais eles sejam os protagonistas do futuro que queremos para a Amazônia.