Por Clara Machado
Indivíduos da mesma espécie de árvore crescendo em um ambiente de várzea, que alaga anualmente, e em um ambiente de terra-firme, não alagável, terão a mesma capacidade de estocar carbono no seu caule? Sobre essa pergunta a Dr. Yennie Bredin se debruçou e, em colaboração com outros pesquisadores do Instituto Juruá, publicou o trabalho intitulado “Forest type affects the capacity of Amazonian tree species to store carbon as woody biomass”, na Forest Ecology and Management. Os resultados nos mostram que o ambiente em que as árvores se desenvolvem afeta significativamente a capacidade das árvores estocarem carbono em forma de biomassa lenhosa.
As árvores que crescem nas florestas alagáveis de várzea tendem a ter menor capacidade de estocar carbono quando comparadas às que crescem em áreas não alagáveis. Isso porque nas várzeas, as árvores passam por momentos anuais de estresse hídrico, como também lidam com os processos de deposição de sedimentos e de erosão do solo, e por isso desenvolvem estratégias de adaptação, como tecidos especializados. Essas adaptações podem afetar estruturalmente a formação da biomassa desses indivíduos, principalmente em espécies pioneiras, aquelas que ocupam os primeiros estágios de sucessão ecológica. Informações sobre como as espécies se adaptam aos diferentes ambientes são importantes para prever mudanças na capacidade de estoques de carbono decorrentes das mudanças climáticas e do desmatamento, por exemplo.
Apesar de comumente estudos estimarem a biomassa das espécies encontradas em florestas inundáveis e não-inundáveis de forma uniforme, o ambiente pode causar uma diferença de até 11% nos cálculos da biomassa lenhosa, o que levado para uma escala de bacia amazônica, resultaria em um erro considerável. O ambiente é, portanto, um fator que deve ser levado em consideração nas estimativas de biomassa na Amazônia para que se tornem cada vez mais realistas e, a partir de então, possamos compreender melhor a importância desses diferentes tipos de floresta para os serviços ecossistêmicos, como a captação de carbono atmosférico e a regulação climática.