COMUNICAÇÃO

Faz sentido falarmos sobre desigualdade de gênero na ciência?

Por Iohara Quirino, Amanda Oliveira e Maíra Pivato

Numa corrida alucinante acadêmica por publicações, aprovações de projetos e vagas em universidades, a verdade é que as mulheres ficam constantemente atrás dos homens. Sabemos que a desigualdade de gênero é um fato presente em toda a sociedade, por séculos nós mulheres temos demonstrado insatisfação pela forma como somos tratadas em nossas casas, no ambiente de trabalho e como nos faltam oportunidades apenas por sermos mulheres. Nos últimos anos, com o uso constante de várias redes sociais, temos tido maior coragem para dividirmos nossas experiências e denunciarmos situações negativas que vivemos diariamente. Dentre essas situações, o meio científico não escapa e ele nos mostra que a desigualdade de gênero tem raízes profundas. 

Existe um estereótipo de que a comunidade científica é formada apenas por homens ou de que estes sejam melhores pesquisadores do que mulheres. Isso gera falta de oportunidades e de incentivos para que meninas conheçam a carreira científica enquanto crianças. Na escola, o debate sobre desigualdade de gênero na ciência ainda é tímido e os exemplos de cientistas são, em sua maioria, homens. Dessa forma, existe uma dificuldade das meninas se interessarem por matérias que se relacionam com exatas e acabam ocupando pouco espaço em, por exemplo, graduações de engenharia. Fazendo um recorte racial, meninas negras têm mais dificuldade para se inserir na carreira científica pelo histórico da segregação racial, mesmo as mulheres negras tendo grandes contribuições na produção científica. Em situações de crise, como um vírus que se espalha rápido e nos impede de viver normalmente, nossa situação enquanto mulher na ciência tende a piorar.

A pandemia do novo coronavírus acabou exacerbando as fragilidades políticas, econômicas e sociais, evidenciando as desigualdades. Nesse contexto, as mulheres têm sido afetadas de muitas formas, a começar pelas profissionais da saúde e cuidadoras, que são em sua grande maioria do sexo feminino, levando a uma maior exposição e vulnerabilidade à doença. Em casa, a mulher se sobrecarrega com trabalhos domésticos não-remunerados, dedicando-se mais horas semanais do que os homens, e para as mães cientistas a realidade é bem parecida. Isso é provado pela queda de submissões de artigos científicos por mulheres, devido ao menor desempenho e tempo de dedicação. Enquanto isso, a produtividade de homens cientistas aumentou em até 50% durante a pandemia.

Se a desigualdade de gênero continua sendo uma constante na ciência, é preciso encontrarmos mais ferramentas para combatê-la. Por mais que as mulheres já tenham conseguido grandes avanços sociais, como o direito a receber um diploma, ainda estamos longe do ideal. Novas ferramentas surgem todos os dias e as redes sociais são grandes aliadas, assim como coletivos e grupos de apoio em universidades. Projetos escolares para meninas são essenciais, visando estimular o pensamento lógico e mostrando que existe a possibilidade delas se tornarem o que quiserem, inclusive cientistas. Tudo isso aliado com o trabalho no ambiente familiar pode trazer profundas transformações na realidade atual. 

O papel de todos é importante para esta tarefa. Se queremos uma ciência mais justa, livre de preconceitos e fortificada, devemos abrir mais espaço para as mulheres, criar suportes para as mães cientistas e estimular meninas a serem futuras líderes no meio científico. Porque afinal de contas, quantas Marie Curie, Bertha Lutz e Sônia Guimarães foram perdidas na nossa história pela falta de oportunidades? Nunca saberemos.

O She’Science (@shescience.podcast) é um podcast que empodera mulheres através da ciência. Além disso, promove discussões e reflexões sobre os papéis da ciência e da mulher na sociedade através de uma linguagem simples, em busca de uma ciência mais acessível para todes.

Iohara Quirino – Co-criadora, podcaster e roteirista no She’Science. Ecóloga, com enfoque no ser humano e Mestra em Ecologia pela UFRN. A divulgação científica veio como uma porta para que a sua voz, juntamente com a de outras mulheres, pudesse ser ouvida com atenção, pois todas juntas podemos mudar o mundo. 

Amanda Oliveira – Administra e cria conteúdo nas redes sociais no She’Science. Graduanda em Ecologia na UFRN, mulher bissexual e ecossocialista. Acredita que ser mulher e fazer ciência pode ser revolucionário.

Maíra Pivato – Editora de áudio no She’Science. Radialista, estudante de Ciências Biológicas na UFRN e futura professora. Vê na divulgação científica um possível caminho para a mudança na sociedade.  

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