COMUNICAÇÃO

Instituto Juruá realiza sua primeira expedição no Médio Juruá desde o início da pandemia

A expedição teve como objetivo executar os projetos acumulados em dois anos de pandemia

Por Bernardo Oliveira

Dois anos em dois meses. Esse foi o lema da expedição do Instituto Juruá pelo rio Juruá que começou em setembro e durou até meados de dezembro de 2021. Na verdade, foram quase quatro meses de trabalho em comunidades ribeirinhas na região do Médio Juruá, AM.

Pouco tempo depois da criação do instituto, em 2018, começou a pandemia de covid-19. Para evitar os riscos de contaminação por comunitários e pela equipe, o instituto suspendeu temporariamente os trabalhos de campo em comunidades. Com o avanço da vacinação, tornou-se possível a retomada das atividades em campo. 

“Tínhamos muitos projetos aprovados, muitos recursos captados e atividades planejadas, que eram para acontecer assim que a pandemia acabasse ou melhorasse. Então aguardamos esse momento, que aconteceu em setembro de 2021, em que a nossa equipe e boa parte das comunidades já estavam vacinadas. Na verdade, foram quase 4 meses de trabalho, para executar projetos e atividades acumuladas durante dois anos. Por conta disso, houve uma grande equipe mobilizada e muitas atividades diferentes sendo realizadas durante essa expedição.”, relata Andressa Scabin, diretora executiva e coordenadora de projetos do Instituto Juruá.

Foto: Bernardo Oliveira

Entre as diversas atividades realizadas, destacamos algumas:

Uma das pesquisas científicas conduzidas durante a expedição foi baseada em entrevistas com comunidades ribeirinhas localizadas dentro e fora de áreas protegidas nos municípios de Carauari e Itamarati. Essa pesquisa busca entender algumas variáveis econômicas, sociais e psicológicas que fazem com que alguns arranjos de conservação de base comunitária funcionem e outros não. 

“São entrevistas bem densas, duram em média 30 minutos, abordando questões econômicas, de coesão social, qualidade de vida, e outros aspectos pessoais dos moradores das comunidades.”, revela Andressa. A maior parte da pesquisa foi realizada por jovens residentes das reservas Reserva Extrativista do Médio Juruá e Reserva de Desenvolvimento Sustentável Uacari, que também participaram da expedição.

Foto: Bernardo Oliveira

Outra das pesquisas executadas foi o mapeamento participativo do uso dos recursos naturais. A ideia deste trabalho é mapear, junto com os comunitários, as áreas onde está acontecendo o uso de recursos, em especial do extrativismo, mas também da agricultura. Extrativismo de sementes oleaginosas, açaí e látex. E a agricultura de roçados de mandioca e de sistemas agroflorestais.

Esse mapeamento faz parte de um diagnóstico dos serviços que as comunidades acabam fornecendo quando elas protegem o território, e fornecerá subsídios para o pagamento por serviços ambientais para as comunidades que vivem na região. 

“Os principais serviços ambientais que estamos analisando são os que envolvem o uso dos recursos do extrativismo e da agricultura em relação a alguns serviços ecossistêmicos como estoque de carbono, qualidade do solo, manutenção da biodiversidade”, complementa Andressa. “E faremos comparações desses serviços entre os diferentes usos da terra como roçados, capoeiras, sistemas agroflorestais e florestas”. 

Foto: Bernardo Oliveira

A equipe do Instituto Juruá ministrou também cursos durante a expedição. Um dos cursos realizado na comunidade do Xibauazinho foi o de contagem de pirarucu para mulheres, realizado em parceria com a ASMAMJ , para habilitar mulheres nessa etapa do manejo do pirarucu que até então era uma atividade majoritariamente masculina. 

Foram realizados também, ambos na Casa Familiar da Floresta, localizado na base de Campina, na RDS Uacari, uma oficina de fotografia, que desenvolveu o olhar dos alunos à percepção artística, e um curso de campo, onde os alunos puderam experimentar alguns dias como pesquisadores, em aulas que foram desde a coleta de dados em campo, passando pela análise de dados em computadores e apresentação dos resultados das pesquisas em formato de um congresso científico.

Andressa destaca que essa foi a primeira expedição de campo realizada enquanto Instituto Juruá. “Pela primeira vez viajamos como um instituto, porque foi consolidado em 2018. Isso foi importante para as pessoas mudarem um pouco o olhar e verem que não somos mais pesquisadores independentes, mas que agora estamos organizados em uma associação que  está lá para realizar um trabalho de longo prazo, não mais pesquisas pontuais.”

“Para mim foi incrível poder estar de volta no Juruá depois de tanto tempo e poder colocar em prática algumas coisas que a gente já tem planejado há anos. A expedição foi bem satisfatória, conseguimos atingir muitos dos objetivos que nos propomos no início E esperamos que, daqui para frente, consigamos manter uma constância nos campos, para não precisar concentrar tanto as atividades”, completa Andressa.

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