COMUNICAÇÃO

Legado de Chico Mendes inspira reunião de comunidades extrativistas em Brasília

Congresso Nacional das Populações Extrativistas promove debates entre comunidades tradicionais de todo o Brasil em defesa da floresta e do clima

Por Maria Cunha

Chico Mendes foi um líder sindical e ativista ambiental brasileiro que dedicou sua vida à defesa dos direitos das populações extrativistas e à preservação dos diversos biomas do Brasil. Seu legado é reconhecido como um marco na luta pela justiça social e ambiental.

Nascido em uma família de seringueiros no estado do Acre, Chico Mendes conheceu desde cedo as dificuldades enfrentadas pelas comunidades extrativistas. Ele testemunhou a exploração predatória dos recursos naturais, o avanço do desmatamento e a ameaça à cultura e ao modo de vida dessas comunidades. Chico Mendes se destacou como líder sindical, fundando o Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Xapuri e posteriormente a Central Única dos Trabalhadores no Acre. Ele defendia a organização coletiva dos seringueiros e lutava por melhores condições de trabalho, acesso à terra e valorização dos produtos extrativistas.

No entanto, Chico Mendes foi além da luta sindical e se tornou um defensor incansável do meio ambiente. Ele percebeu que a preservação dos biomas, como a Amazônia, era fundamental para a sobrevivência das comunidades extrativistas e para a saúde do planeta como um todo.

Legado de Chico Mendes se mantém vivo no Congresso do CNS. Foto: Maria Cunha

Chico Mendes foi pioneiro na proposta de conciliar a proteção ambiental com a atividade extrativista sustentável. Ele defendia a criação de reservas extrativistas, áreas onde as comunidades tradicionais poderiam continuar suas práticas de manejo dos recursos naturais de forma sustentável, garantindo sua subsistência e a preservação da biodiversidade. Sua luta ganhou notoriedade internacional, mas também gerou inimigos poderosos. Infelizmente, Chico Mendes pagou com sua vida por sua coragem e determinação. Ele foi assassinado em 1988, deixando um legado de inspiração e comprometimento com a causa das populações extrativistas e da preservação ambiental.

O legado de Chico Mendes é imenso. Sua luta e sacrifício trouxeram visibilidade para as comunidades extrativistas e para a importância da conservação dos biomas brasileiros. Seu trabalho inspirou inúmeras pessoas e organizações a continuarem a batalha pela justiça social e ambiental.

É importante lembrar e valorizar o legado de Chico Mendes e continuar sua luta, garantindo que as populações extrativistas tenham seus direitos. O conselho nacional das populações Extrativistas (CNS) é uma organização que colabora com a luta das comunidades tradicionais e que ajuda a manter o legado de Chico Mendes vivo em cada território, dentro de cada Bioma. Incentivando também a participação feminina e juvenil para está atuante dentro dos movimentos e abraçando a luta de suas comunidades e territórios, Um protagonismo que visa trazer maior representatividade na luta por seus direitos e conquistas territoriais.

O Congresso Nacional das Populações Extrativistas, realizado em Brasília entre os dias 13 a 17 de novembro, foi um evento de grande importância para discutir e promover os direitos e interesses das comunidades extrativistas no Brasil, pensando também nesse contexto de defesa da floresta e do Clima.

Participantes durante o Congresso Nacional das Populações Extrativistas. Foto: Divulgação CNS

As populações extrativistas são grupos tradicionais que dependem da exploração sustentável dos recursos naturais para sua subsistência, como a pesca, a coleta de frutos e plantas medicinais, a extração de óleos, entre outras atividades. Essas comunidades possuem um profundo conhecimento sobre a biodiversidade local e desempenham um papel fundamental na preservação do meio ambiente.

A mudança climática tem afetado o desenvolvimento dos territórios, mudando totalmente a rotina de quem vive e trabalha na floresta e nas águas. Entender qual o papel dos territórios nesse contexto e de que forma podem estar colaborando nessa agenda importante sobre as mudanças climáticas trouxe reflexões importantes a serem discutidas pelas populações extrativistas.

O congresso reuniu representantes de diversas comunidades extrativistas, além de autoridades governamentais, especialistas e organizações não governamentais. O objetivo principal do evento foi promover a troca de experiências, fortalecer a organização dessas comunidades, e discutir políticas públicas que garantam seus direitos e melhorem suas condições de vida.

Durante o congresso, foram realizadas diversas palestras, mesas e debates, sobre temáticas como o papel dos territórios de uso sustentável no combate a crise climática, a consolidação dos territórios de uso sustentável, regularização fundiária e infraestrutura para as reservas extrativistas, assim como foram discutidas gestão socioprodutivas e linhas de sustentabilidade juntamente com linhas de financiamento para a economia da sociobiodiversidade, gestão e organização social dos territórios.

O Seminário Nacional Mulheres e Justiça Climática, promovido pelo Ministério das Mulheres, em parceria com o Conselho Nacional das Populações Extrativistas e parceiros, reuniu mulheres de todos os biomas. Um momento de trocas e diálogo importantes, construindo diretrizes para elaboração de propostas que efetivem maior participação feminina no contexto das agendas climáticas. Levando em consideração que as mulheres são as pessoas mais afetadas com essas mudanças, o seminário trouxe também um panorama de como as mulheres se veem e lutam dentro dos seus territórios, por oportunidade, reconhecimento, e valorização.

Mesa durante o Seminário Nacional Mulheres e Justiça Climática. Foto: Maria Cunha

A partir das trocas de conversas, foi notório o quantos as realidades territoriais se coincidem e quanto a luta das mulheres é parte de tradições e lutas cotidianas. Mas que o empoderamento social tem moldado um outro viés de conhecimento e força, e as mulheres estão cada vez atentas e dispostas a escrever novas histórias em que elas sejam as protagonistas principais. O seminário levou a criação de um manifesto produzido com as demandas de cada território apresentado pelas mulheres em grupos de trabalhos, representando os diversos biomas do Brasil.

No congresso, uma também discussão importante, girou em torno da importância do reconhecimento e da valorização do conhecimento tradicional dessas comunidades. Muitas vezes, esse conhecimento é subestimado ou ignorado, mas é fundamental para a preservação ambiental e para o desenvolvimento sustentável. E também no contexto da agenda climática. Um viés que necessariamente precisa ser levado em consideração de acordo com a visão de quem mora e vive dentro dos seus territórios, dentro de cada bioma brasileiro.

O congresso também serviu como um espaço para que as comunidades extrativistas pudessem expressar suas demandas e reivindicações. Entre as principais reivindicações estão o acesso a políticas públicas específicas, como programas de crédito, assistência técnica e capacitação, além de maior participação nas decisões que afetam suas vidas e territórios.

Representantes do Médio Juruá no Congresso Nacional das Populações Extrativistas. Foto: autoria desconhecida.

Ao final do evento, foram elaboradas propostas e recomendações que serão encaminhadas aos órgãos governamentais responsáveis pela formulação de políticas voltadas para as populações extrativistas.

O Congresso Nacional das Populações Extrativistas foi uma oportunidade única para fortalecer a luta dessas comunidades, ampliar sua visibilidade e garantir que suas vozes sejam ouvidas. Espera-se que as discussões e debates realizados durante o evento contribuam para a implementação de políticas mais justas e sustentáveis para essas populações, preservando assim a riqueza natural e cultural do país.

Nesse congresso, o Conselho Nacional das Populações Extrativistas contou também com a eleição de sua nova diretoria, com representantes de mulheres, jovens e extrativistas no contexto geral, um grupo de líderes que carrega o legado maior de representar as populações tradicionais nas lutas pelos seus direitos e reconhecimentos nos seus territórios e fora deles.

Nova diretoria eleita do Conselho Nacional das Populações Extrativistas. Foto: Divulgação CNS

Hoje, o reconhecimento dos direitos das populações extrativistas e a proteção dos biomas são pautas centrais nas políticas públicas e no ativismo ambiental. O exemplo de Chico Mendes continua a inspirar ações e movimentos em defesa da Amazônia, do Cerrado, da Mata Atlântica e de tantos outros biomas, bem como das comunidades tradicionais que dependem desses ecossistemas para sua sobrevivência.

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