COMUNICAÇÃO

Manejo da floresta: tão antigo quanto o tempo que humanos e animais proseavam

Por André Antunes

Dentro da disciplina Biologia da Conservação, ‘manejo’ é um conjunto amplo de esforços e processos envolvendo a aplicação de ferramentas científicas com objetivo de estabelecer novas perspectivas em relação ao meio ambiente tanto em escala local como global. Trata-se de uma palavra relativamente nova, utilizada sobretudo a partir do século XIX, quando a sociedade sentiu a necessidade de planejar ações para recuperação de habitats e populações de espécies impactados por atividades humanas predatórias. 

Entretanto, se considerarmos que o manejo também pode ser compreendido como um conjunto de práticas de manipulação do ambiente que objetivam torná-lo mais propício ao bem estar humano e mais resiliente às vulnerabilidades e incertezas, chega-se à conclusão de que manejo por definição é tão antigo quanto a própria história humana. “Cuidar” do território, “guardá-lo” ou “protegê-lo”, além de serem termos recorrentes nas línguas indígenas, se referem também a práticas econômicas, sociais e culturais que ao longo do tempo tendem a transformar a paisagem. O plantio e a seleção das espécies frutíferas mais convenientes ao bem estar humano modificam a estrutura e composição florestal e acabam por atrair também diversas espécies de animais, incluindo aqueles de grande porte normalmente consumidos pelas pessoas. Na Amazônia, a caça é fundamental para alimentação das populações indígenas, tradicionais e camponesas. O manejo da fauna é tão diverso quanto a complexidade social e ecológica da região e sua riquíssima diversidade étnica e biológica. Para os indígenas a própria concepção do mundo remonta a uma época em que humanos e animais interagiam socialmente. E tais relações sociais em constante construção seguem exigindo uma série de condutas éticas por parte do caçador com relação à caça, precavendo exageros por meio da potencial vingança dos espíritos-donos a quem eventualmente desrespeite tais normativas. 

Por fim, um dos mecanismos mais importantes para a resiliência da Amazônia à caça é a própria extensão continental da floresta! O difícil acesso a áreas distantes das aldeias e comunidades assegura que ali animais vivam e se reproduzam livres da caça. Para as populações amazônicas o manejo consiste numa prática integral! Ele conecta elementos naturais e sobrenaturais, biológicos, físicos e climáticos, proporcionando os processos sociais, econômicos e culturais para o bem estar e os modos de vida das pessoas que vivem no interior. Acima de tudo, o manejo da Amazônia postula a floresta em pé e os territórios indígenas e tradicionais devidamente assegurados!

André Antunes é biólogo com doutorado em Ecologia pelo Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia, procura associar pesquisa e extensão como forma de melhorar a eficácia das práticas de manejo e conservação da fauna na Amazônia. Seus esforços são direcionados em subsidiar planejamento e implementação da conservação nas paisagens, combinando ferramentas científicas e conhecimento tradicional.

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