Comunicação

Manejo do pirarucu na Amazônia: um modelo de sustentabilidade que garante renda e proteção da biodiversidade no território Médio Juruá

Protagonismo, boa governança e fortalecimento das organizações de base local garantem renda e desenvolvimento sustentável por meio do manejo do gigante amazônico na região do Médio Juruá

Por Thais Alves

O manejo do pirarucu (Arapaima gigas) referente ao ano de 2022 foi um sucesso para as comunidades do Território Médio Juruá, no sudoeste do Amazonas. A atividade reuniu comunidades da Resex Médio Juruá e RDS Uacari, da Terra Indígena Deni do rio Xeruã e do Acordo de Pesca de Carauari. A atividade de manejar o maior de peixe de escamas da Amazônia não é uma tarefa fácil. Extremamente apreciado na gastronomia, a comercialização movimenta a economia local e contribui para a conservação da espécie. Uma iniciativa que alia os pilares da sustentabilidade em sua essência.

A pesca predatória desse gigante amazônico reduziu os estoques da espécie em rios e lagos acarretando a proibição da pesca como forma de proteção ambiental frente à ameaça de extinção. O manejo sustentável na região é autorizado pelo Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e Recursos Naturais Renováveis (IBAMA), a partir de uma cota que equivale a 30% dos indivíduos contabilizados no ano anterior. O manejo pressupõe um conjunto de diretrizes para garantir a reprodução da espécie e sua conservação.

As engrenagens necessárias para o sucesso do manejo nesta região perpassam pelo modelo de organização local, articulação e governança territorial. Em que o manejo em si, é exemplo da sinergia entre o conhecimento tradicional e o uso sustentável dos recursos naturais, que fortalece a conservação da sociobiodiversidade e percorre uma série de etapas até os resultados promissores. 

Etapas que envolvem o manejo do pirarucu. Fonte: Adaptado de Coletivo Pirarucu, 2022. 

A atividade de manejo ocorreu no mês de setembro e outubro na região do Médio Juruá, meses que marcam o fim do verão amazônico. A atividade demanda preparação antecipada e envolve a coletividade. De acordo com Henrique Cunha, manejador certificado, agente ambiental voluntário e liderança jovem da comunidade do São Raimundo, “estão envolvidas entorno de 18 comunidades na atividade de manejo, tanto do pirarucu quanto de outros pescados, algumas de forma permanente e outras temporariamente”.

A Comunidade do São Raimundo, pioneira no manejo sustentável do pirarucu na região demonstra, com resultados claros, o potencial da organização e boa governança. Com 12 anos de manejo do gigante amazônico, as comunidades, organizações locais e parceiros se mobilizam por meio da construção de canoas, limpeza dos caminhos dos lagos, verificação da condição dos materiais, oficinas de capacitação de mulheres para contagem, organização das equipes, logística entre outras atividades.

As 36 famílias da comunidade do São Raimundo estiveram envolvidas na atividade, cerca de 80 pessoas diretamente no manejo em si, entre homens e mulheres, que realizaram a pesca nos lagos do Sacado, Marimari e paranã do Manariã. A juventude e principalmente as mulheres estão cada vez mais presentes nas etapas e nos espaços de decisão desta atividade, que trouxe para a comunidade um retorno financeiro de cerca de R$ 216 mil, uma renda entorno de R$ 6000 mil por família, segundo Henrique.

Lago do Manariã, um dos ambientes onde ocorreu a pesca neste ano. Foto: Cesar Henrique Cunha de Lima

A renda advinda da atividade acarretou, nesses 12 anos, grandes conquistas ao território e à comunidade, conforme enfatizado por Henrique que relata a importância da organização nesse processo, “é uma renda a mais para a comunidade, trouxe parceiros e temos uma organização a altura de grandes mercados”. 

A população do Médio Juruá hoje, sorri com os resultados do manejo que impactam positivamente a população local, não apenas quanto à geração de renda, mas na melhoria da qualidade de vida e a contribuição para a proteção territorial, conservação das espécies e manutenção dos serviços ecossistêmicos. “Não tenho dúvidas de que o manejo realizado aqui protege a biodiversidade” finaliza Henrique. 

A pesca do pirarucu é realizada durante a noite. Foto: Cesar Henrique Cunha de Lima, 2022.

O manejo do pirarucu é coordenado pela Associação de Produtores Rurais de Carauari (ASPROC) e colaboraram para a execução do manejo no território Médio Juruá diversas organizações como Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), Associação dos Moradores Agroextrativistas da Comunidade São Raimundo (AMECSARA), Associação dos Moradores Agroextrativistas da Reserva de Desenvolvimento Sustentável de Uacari (AMARU), Associação de Mulheres Agroextrativistas do Médio Juruá (ASMAMJ), Associação do Povo Deni do Rio Xeruã (ASPODEX), Associação dos Trabalhadores Rurais de Juruá (ASTRUJ), Associação dos Moradores Agroextrativistas do Baixo Médio Juruá (AMAB), Secretaria do Estado do Meio Ambiente (SEMA/DEMUC), Operação Amazônia nativa (OPAN), Memorial Chico Mendes, Prefeitura Municipal de Carauari, Colônia de pescadores Z-25, Fundação Amazônia Sustentável (FAS) e Instituto Juruá.

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