Comunicação

Manejo sustentável do pirarucu no Território Médio Juruá em 2023: resultados e desafios

A seca extrema que aflige a Amazônia leva à prorrogação do prazo da pesca nas comunidades, mesmo assim algumas conseguiram manter o calendário

Por Maria Cunha

O manejo do pirarucu no Médio Juruá é uma prática de conservação e sustentabilidade que visa garantir a preservação e a utilização responsável dessa espécie icônica de peixe de água doce da Amazônia. Através de técnicas como o controle da pesca, o monitoramento dos estoques e a adoção de medidas de proteção, busca-se conciliar o desenvolvimento econômico das famílias com a preservação do ambiente aquático e a manutenção das comunidades tradicionais que dependem desse recurso natural. Essa abordagem sustentável promove a conservação da biodiversidade e contribui para o desenvolvimento socioeconômico da região. O manejo do pirarucu é realizado por meio da implementação de medidas regulatórias e estratégicas de pesca sustentável e uma das principais abordagens é a definição de períodos de pesca, que estabelecem épocas específicas em que a pesca do pirarucu é permitida. Isso garante que a espécie tenha tempo suficiente para se reproduzir e manter seu estoque populacional saudável.

Manejo do pirarucu. Foto: Bernardo Oliveira

As comunidades locais desempenham um papel fundamental nesse processo. Participam ativamente das decisões relacionadas ao manejo do pirarucu, contribuindo com conhecimentos tradicionais e experiências práticas. Essa abordagem participativa fortalece a conexão das comunidades com o meio ambiente e promove a conservação da espécie.

Atualmente, o manejo tem se tornando uma das cadeias produtivas mais rentáveis na região de acordo com a avaliação dos resultados obtidos pelas famílias. A rotina estabelecida pelos moradores, que perpassa desde a proteção dos ambientes à  organização comunitária, traz um viés de sustentabilidade e desenvolvimento social muito importante, o que torna a cadeia do pirarucu cada vez mais uma referência de economia sustentável, dentro e fora do território.  

A estiagem na Amazônia neste ano tem sido uma preocupação crescente. A região, conhecida por sua exuberante floresta tropical e pela umidade característica, está enfrentando uma séria escassez de chuvas, resultando em um período prolongado de seca. Essa estiagem é um fenômeno natural que ocorre periodicamente, mas os impactos deste ano têm sido mais intensos. Além de ter afetado a qualidade de vida das populações ribeirinhas em diversos fatores, o desempenho da cadeia produtiva do pirarucu também teve impactos, a diminuição do nível dos lagos e dos rios e a dificuldade de acesso aos ambientes de pesca foram alguns dos fatores naturais que impossibilitaram  o seguimento do cronograma da pesca manejada na região. 

Muitas comunidades não conseguiram a captura de toda sua cota de peixes, e outras necessariamente precisaram adiar as datas da pesca. Levando em consideração a situação emergente, as organizações que compõem o Coletivo do Pirarucu e são atuantes no manejo da espécie no Estado do Amazonas solicitaram a prorrogação do prazo da pesca do pirarucu ao instituto brasileiro do Meio Ambiente e recursos naturais (IBAMA) até 20 de dezembro de 2023, para que as comunidades consigam finalizar essa atividade que é de suma importância para todos.

Apesar da estiagem, algumas comunidades ainda conseguiram estabelecer a sua rotina no contexto da cadeia produtiva do manejo do pirarucu. São Raimundo, localizada na Reserva Extrativista do Médio Juruá e Toari, localizada na Reserva de Desenvolvimento Sustentável Uacari, foram  exemplos das comunidades que conseguiram atingir suas cotas. Mesmo com algumas dificuldades de logística por conta da entrada do igarapé que dá acesso a comunidade de São Raimundo, foi possível concluir a despesca de 418 pirarucus, garantindo assim a renda prevista dessa atividade para a comunidade em 2023.

“Esse ano foi um desafio maior pra gente, essa estiagem da amazônia trouxe uma reflexão de como precisamos estar atentos às mudanças climáticas, sendo que isso pode afetar toda nossa produção, inclusive aquelas que em que a gente defende como prioridades para nossa qualidade de vida, como é a cadeia do pirarucu pra gente aqui. É  por isso que a gente tem grandeS sonhos de agregar mais valor ao pirarucu manejado da nossa região, como a certificação do comércio justo, por exemplo” relata Manoel Figueiredo, manejador e liderança da comunidade São Raimundo, da Reserva Extrativista do Médio Juruá. 

É essencial que sejam criadas estratégias comunitárias e políticas nas instâncias governamentais para que o manejo do pirarucu possa resistir a esses eventos extremos. Afinal, o manejo sustentável do pirarucu no território Médio Juruá tem mostrado ótimos resultados. . A população de pirarucus tem se recuperado gradualmente, e os estoques estão mais saudáveis. Além disso, a adoção dessas medidas tem trazido benefícios socioeconômicos para as comunidades locais, que têm uma fonte de renda sustentável e preservam a cultura da pesca tradicional. 

Está gostando do conteúdo? Compartilhe.

plugins premium WordPress