Por João Vitor Campos-Silva
Eu andava pensando muito sobre o efeito da solidão na condição humana. Havia completado há pouco 160 dias morando no barco e, mesmo com os três companheiros de trabalho presentes na jornada, as vezes me percorria as veias um sentimento de vazio. Pensei estar em frente à tal solidão. Na lentidão do tempo, em uma manhã ensolarada reencontrei um amigo que não via há cerca de dois anos. Ele é morador isolado em um canto desses do Brasil onde o tudo e o nada podem ser exatamente a mesma coisa.
Seu Gracias, ao me ver, logo gracejou com seu jeito caboclo, carinhoso e educado: “JB quanto tempo! Que bom lhe ver! Pois faz 15 meses que eu não via ninguém! Nem uma alma penada que pudesse bater um papo!”
Eu em minha pueril ingenuidade logo pensei: Ave Maria, como deve ser triste viver mergulhado na solidão! Dentre todos os sentimentos, a solidão deve ser o mais avassalador. Ela mata devagar, como um gás fatal que se ancora em cada espaço vazio de nossos alvéolos, nos conduzindo à fadiga e agonia. E fiquei com isso na cabeça, observando a alegria que emanava de seu Gracias enquanto conversava com outros companheiros.
Mas pensando melhor no assunto, vagando em chãos despovoados e aprendendo com o sorriso do seu Gracias, percebo que na realidade a solidão nada tem a ver com reclusão social e falta de pessoas que possam estabelecer laços de amor ou amizade.
A solidão, na realidade, ocorre quando nos perdemos de nós mesmo. Quando nosso “eu” se desencontra o mundo desmorona. Tudo perde o sentido e o vazio que se aloja no peito tem o peso do mundo. Qualquer vida deve abarcar um sentido, por mais simples que ele seja. Se perdermos esse sentido o nosso “eu” também se esvai.
Por isso vemos eremitas vagando em templos, florestas e desertos com o coração transbordando de alegria e, ao mesmo tempo, vemos grandes legiões de pessoas em megalópoles com milhares de amigos nas redes sociais, mas padecendo na mais brutal solidão. Eles estão completamente sós no meio de milhares.
Por isso, seu Gracias é tão feliz. Mesmo vivendo em reclusão, ele nunca esteve realmente sozinho, pois o sentido de sua vida e sua própria companhia sempre foram o bastante. Dar um sentido à vida é blindar-se frente à solidão! Que tolo era eu ao pensar que a solidão era ausência de algo externo. Quero mesmo é viver me encontrando para que eu nunca me perca de mim!