A assembleia anual da Associação dos Produtores Rurais de Carauari foi marcada pela memória das conquistas da luta coletiva no Médio Juruá
Por João Victor Campos-Silva
Entre os dias 31 de março e 2 de abril, a equipe do Instituto Juruá participou da assembleia da Associação dos Produtores Rurais de Carauari (ASPROC). Essa assembleia foi bastante especial, pois além dos ritos tradicionais de prestações de contas, informes gerais e apresentações de resultados de projetos, foi definida a nova diretoria que irá conduzir os projetos da organização nos próximos três anos.
A ASPROC também aproveitou a presença de cerca de 300 associados e dezenas de parceiros para comemorar seus 30 anos de história. E que história! O surgimento e atuação da ASPROC ilustra bem a luta dos povos tradicionais na Amazônia. Uma luta coletiva, agregadora, que tirou toda uma população ribeirinha das garras dos patrões, para viveram sua liberdade enquanto ensinam o mundo sobre uma nova forma de se relacionar com a natureza. Nesses caminhos houveram muitas quedas e dificuldades que ainda se fazem presentes, naturalmente. Mas queremos relatar o impacto positivo dessa luta, que é a mais potente fonte de inspiração para o Instituto Juruá.
A ASPROC foi o maior instrumento de luta do povo do Médio Juruá, que deixou as colocações para formar as comunidades com o auxílio sobretudo da igreja católica através do Movimento de Educação de base. Ali, lideranças se tornaram professores, proporcionando um engajamento coletivo que se fortalecia a cada dia para trazer os direitos sociais e humanos para a beirada do rio. Depois, a ASPROC liderou a criação das unidades de conservação na região, dando segurança fundiária aos extrativistas. Como resultado, o Médio Juruá se tornou essa potência que é hoje em dia quando o assunto é manejo dos recursos naturais e sustentabilidade. Chico Mendes deve ter um grande orgulho ao ver a lista grande de conquista dos companheiros!
A ASPROC emerge como uma organização corajosa que desafia as projeções convencionais para o futuro da Amazônia, ao colocar os povos tradicionais como protagonistas na pauta da conservação e do desenvolvimento local. Isso é fundamentalmente importante em um lugar ávido por modelos externos. A ASPROC é o exemplo materializado de que se houver um futuro melhor para a Amazônia, esse futuro virá pelas mãos calejadas daqueles que vivem debaixo das camadas de florestas.
Que a ASPROC possa comemorar mais 30, 60, 300 anos, inspirando e ajudando nossa sociedade a construir um futuro com mais justiça social para a Amazônia. Nós, do Instituto Juruá, desejamos uma excelente gestão ao senhor Ecivaldo Dias Ferreira e seus diretores na sua mais nova empreitada como presidente da ASPROC. Reiteramos também nosso mais profundo respeito e admiração por essa organização que tanto faz pelo Médio Juruá e pela Amazônia. Vida longa à ASPROC!
