Comunicação

Curso de Metodologia de Contagem do Pirarucu no município de Itamarati

Curso de metodologia de contagem do pirarucu empodera comunidades de Itamarati sobre a sustentabilidade da cadeia produtiva da espécie e o desenvolvimento comunitário na região. 

Por Maria Cunha

Participantes da oficina de metodologia de contagem do pirarucu no lago da comunidade Quiriru, em Itamarati. Foto: Edimar Costa.

O pirarucu (Arapaima gigas), também conhecido como o “gigante das águas”, é um peixe de água doce que pode atingir tamanhos impressionantes, chegando a pesar mais de 200kg. A contagem do pirarucu é uma prática importante para a preservação e manejo sustentável dessa espécie. Para que a pesca sustentável seja possível, é necessária a contagem da população de peixes que vivem nos lagos, pois é a partir desta contagem que o Ibama determinará a cota que poderá ser pescada, garantindo que se mantenha uma quantidade suficiente de peixes no ambiente para que a população cresça.

É fundamental que as comunidades sejam capacitadas para essa contagem. Nesse sentido, o curso de metodologia de contagem de pirarucu é um elo entre a comunidade e o trabalho de conservação da espécie, despertando o interesse da comunidade pelo manejo sustentável. Entre os dias 4 a 6 de agosto de 2023, o Instituto Juruá ofereceu um curso de metodologia de contagem do pirarucu para comunidades do município de Itamarati.

O curso aconteceu na comunidade Quiriru, com a participação de 26 alunos de diferentes comunidades do município. A iniciativa do Instituto Juruá contou com parcerias indispensáveis como a Câmara de vereadores e a Prefeitura Municipal de Itamarati, a Secretaria Municipal de Meio Ambiente do município de Itamarati (SMMAT) e a Associação Ambiental, Extrativistas, Pescadores e Produtores Rurais de Itamarati (AAEPPRI).

Foi uma experiência importante para a comunidade que recebeu a iniciativa, assim como para as comunidades que participaram através de seus representantes. Aprender sobre a metodologia de contagem do pirarucu é uma experiência enriquecedora que permite ao aluno adquirir conhecimentos valiosos sobre a biologia e comportamento do pirarucu além de técnicas específicas de contagem que são utilizadas para monitorar sua população. Além desses requisitos tão importantes, o curso também abordou a importância de contribuir para a conservação desse peixe icônico 4 conhecer a sua estrutura populacional, incluindo a distribuição por faixa de tamanho, através de aulas teóricas e práticas.

Aula teórica durante a oficina de metodologia de contagem do pirarucu, em Itamarati.

Na região do município de Itamarati, as comunidades ainda estão se familiarizando com o trabalho de conservação e proteção da espécie, mas é notável o interesse da população no monitoramento populacional do pirarucu. A contagem que já começou na região desde 2020 tem transformado a visão dos moradores de como a sustentabilidade da espécie é importante para o meio ambiente, região e comunidade. 

“Quando eu decidi participar do curso de metodologia de contagem do pirarucu, eu queria entender melhor sobre esse peixe e de que forma eu poderia ajudar a incentivar a comunidade na conservação da espécie. Pude perceber o quanto é importante manter um ambiente protegido de forma que o pirarucu possa se desenvolver e trazer benefícios para a comunidade” conta Cicero Pereira da Silva, morador da Comunidade Iracema, que participou do curso.  

Entender melhor sobre a população do pirarucu em um determinado ambiente, trouxe um grande entusiasmo aos comunitários que puderam participar do curso, e gerou um despertar maior sobre o cuidado e a proteção. O acordo de pesca na região de Itamarati está tramitando para entrar em vigor. Porém o trabalho de vigilância e monitoramento dos lagos já está acontecendo, e a certificação de contador de pirarucu trouxe um incentivo maior do que o esperado para participou do curso. Muitos comunitários se dizem honrados em poder, agora, contribuir de forma mais direta com esse trabalho de conservação do pirarucu, entendendo melhor a metodologia de monitoramento da população. Assim, o despertar para a sustentabilidade da espécie está cada vez mais se tornando uma atividade coletiva e empoderando as comunidades na sua liderança e socialização. 

“Vejo que se a gente não cuidar dessa espécie e de muitas outras, vamos perdê-las. Então agora, como contador, eu sei que posso observar melhor como a população de pirarucu do nosso lago preservado pode está aumentando ou diminuindo”, conta Geovane Sales de Araújo, da Comunidade Refugio. 

O curso de metodologia de contagem de pirarucu, trouxe também um empoderamento social entre as comunidades locais. Além da troca de experiência, de conhecimento tradicional e de perspectiva de futuro, um diálogo sobre como a participação da liderança comunitária é importante nesse processo, despertou interesse dos comunitários e alunos do curso de vivenciar essa experiência e acompanhar o desenvolvimento do processo de contagem de pirarucu nas 13 comunidades do município que já iniciaram o processo de contagem. E na ocasião, colocar em prática todo conhecimento adquirido no curso. Foram 17 dias participando juntos com a equipe do Instituto Juruá na contagem de 27 lagos da região.

Aula prática durante a oficina de metodologia de contagem do pirarucu, em Itamarati. Foto: Maria Cunha.

“Cada lago que a gente passou era uma experiência a mais que eu conseguia assimilar dentro do meu conhecimento, foi uma grande experiência para mim, como comunitária e como contadora de pirarucu”, conta Agna Lima, nova contadora da Comunidade São Brás. 

‘’Eu pude perceber o quanto o processo organizacional dessa atividade é importante e como precisa partir muito da própria comunidade o interesse, foi muito bom para mim depois do curso poder acompanhar a contagem que é uma etapa importante e uma prática que foi fundamental pra gente aprimorar nosso conhecimento adquirido em curso”, complementa Ana Paula, da Comunidade Igarapé. 

O interesse de vivenciar a experiência de contagem em diferentes lagos de diferentes comunidades após o curso partiu dos próprios alunos. E, segundo a avaliação deles, foi fundamental para adquirir mais experiência nessa atividade e aprimorar seus conhecimentos práticos, aproveitando assim a participação dos monitores para tirar dúvidas decorrentes da ação, fazer perguntas teóricas e práticas e trocar informações de conhecimento local e técnico durante a jornada. 

A participação feminina na cadeia do pirarucu tem incentivado cada vez mais mulheres a se sentirem empoderadas a trabalhar, e também incentivar as suas comunidades. Durante o curso de contagem na região de Itamarati, foi notável o interesse e o incentivo que as mulheres estão cultivando dentro de suas comunidades para mudar o contexto da realidade em que vivem. Esse “estágio” foi fundamental. 

“Oportunidades como essas que podem fazer a diferença na nossa vida e na nossa comunidade, mas precisamos aprender a abraçá-las e aproveitar. Me tornei contadora de pirarucu, eu e minha neta, já é um diferencial para a minha comunidade”, explica Francisca Alexandrino, da Comunidade Cantagalo. 

Francisca Alexandrino com sua neta recebendo o certificado de conclusão do curso da educadora e técnica de produção sustentável Maria Cunha. Foto: Edimar Costa

A organização comunitária foi uma das etapas mais importantes a serem abordadas, onde os comunitários puderam perceber que tudo acontece a partir disso. O curso de metodologia de contagem de pirarucu, não foi só um momento de aprendizado para os alunos que puderam participar, foi uma troca de saberes, conhecimento e informação importante que despertou um olhar mais empoderado, sustentável e líder de cada um e cada uma que esteve presente. 

Os alunos tiveram um alto índice de aproveitamento na avaliação do curso, validando-se a 100% de aprovação. A equipe responsável pela aplicação teórica e prática do curso contou com os contadores certificados Edimar Costa de Souza, que é Técnico de Pesca do Instituto Juruá, e Raimundo Pires de Medeiros, que é técnico e manejador do pirarucu há mais de dez anos, assim como a participação de Maria Cunha, Técnica de Produção Sustentável além de comunicadora e educadora no Instituto Juruá.

“A aprovação de todos os participantes, nos deixou satisfeitos, e saber que as vivências cotidianas de prática tradicional nas comunidades é nossa escola de saberes. Regamos uma semente de sustentabilidade de uma espécie muito querida e conservada no médio Juruá, que já foi plantada na região quando as comunidades decidiram que queriam fazer o monitoramento do pirarucu, e esperamos que com o entusiasmo que essa turma ficou depois do curso e de ter acompanhado todo o processo de contagem, essa semente só cresça e se fortaleça na região”, finaliza Edimar Costa.

Turma de novos contadores formados em Itamarati com seus certificados na finalização do curso. Foto: Natanilson Lopes.

 

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