COMUNICAÇÃO

Instituto Juruá realiza expedição de pesquisa que investiga os impactos socioeconômicos e ecológicos da cadeia de sementes oleaginosas no Médio Juruá

Por Maria Julia Ferreira

Pesquisadores do Instituto Juruá dão início às expedições do projeto “Entendendo Cadeias Globais de Valor na Amazônia”, que tem como principal objetivo desvendar as estratégias utilizadas pelas pessoas da Amazônia visando agregar valor sustentável à coleta de sementes oleaginosas. A partir disso, busca-se entender quais são os impactos sociais e econômicos desta atividade na vida das comunidades locais e o impacto ecológico da coleta de sementes para as florestas na região do médio rio Juruá.  

Neste mês de outubro, uma equipe de pesquisadoras rumou a Carauari (AM) com dois objetivos: reunir-se com os moradores e lideranças locais e implementar parcelas florísticas para a avaliação do impacto ecológico da coleta tradicional de sementes de andiroba (Carapa guianensis), murumuru (Astrocaryum murumuru) e ucuúba (Virola surinamensis), que são amplamente coletadas na região para a produção de óleos vegetais para a indústria cosmética. 

De acordo com a pesquisadora do Instituto Juruá Andressa Bárbara Scabin “Reunir-se com as lideranças locais é de extrema importância para alinhar as demandas locais com os objetivos do projeto e receber indicações sobre quais comunidades estão trabalhando mais ativamente com a coleta e venda de sementes”. Essa abordagem permite uma melhor organização do trabalho de campo e também garante a parceria com os coletores, que são essenciais para o sucesso do projeto. 

Reunião com a comunidade Xibauzinho, na Reserva de Desenvolvimento Sustentável Uacari, para apresentação do projeto. Foto: Giovana Teixeira

Para esse estudo, foram escolhidas áreas florestais de 100 x 50 metros localizadas em locais de coleta de sementes, onde as pesquisadoras, em parceria com moradores das comunidades, marcam todas as árvores e palmeiras adultas, juvenis e plântulas das três espécies. Além da localização das árvores e palmeiras, também é medido o diâmetro de todas elas, assim como é feita uma contabilização das mudas que estão crescendo nesseslocais. “Essa metodologia nos permite ver o quanto as árvores vão crescer e quantas novas árvores vão nascer nas áreas de coleta tradicional por um período de tempo” afirma Janaina Costa, doutoranda da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) que está desenvolvendo sua tese junto ao projeto. 

A equipe irá acompanhar essas parcelas por três anos, assim como o mesmo número de áreas onde a coleta tradicional não é feita. Segundo Andressa Scabin “com essa amostragem pareada, podemos comparar a regeneração e o crescimento da floresta em áreas sob o cuidado dos moradores tradicionais e em áreas sem este valioso cuidado”. 

No início do próximo ano, as pesquisadoras voltarão ao território para monitorar a produção de sementes nestas mesmas áreas. Janaina Costa explica que “serão instalados coletores de sementes em algumas árvores em idade reprodutiva. Nesses coletores contamos quantas sementes são produzidas e, com isso, podemos obter uma média da produção de sementes em cada área de coleta”. Esta informação será relacionada aos dados sobre a quantidade de sementes comprada pelas organizações locais,  Cooperativa Mista de Desenvolvimento Sustentável e Economia Solidária do Médio Juruá (CODAEMJ) e Associação dos Moradores Agroextrativistas da Reserva de Desenvolvimento Sustentável de Uacari (AMARU). Isso permitirá estimar o quanto a floresta produz de sementes e o quanto é de fato coletado pelos moradores locais.

Produção de óleo de andiroba na usina do Roque da Cooperativa Mista de Desenvolvimento Sustentável e Economia Solidária do Médio Juruá (CODAEMJ). Foto: Bruno Kelly

Na próxima expedição deste projeto, prevista para o primeiro semestre de 2024, a equipe voltará às comunidades para fazer entrevistas com as coletoras e coletores de sementes para entender como essa atividade influencia na renda e na qualidade de vida dessas pessoas. Essa análise do impacto socioeconômico da cadeia das oleaginosas será vista também sob a lente de gênero, ou seja, como os impactos dessa cadeia afetam os homens e as mulheres. 

“Considerando que boa parte das pessoas que coletam sementes são mulheres, mas não necessariamente são elas as mais beneficiadas, é importante entendermos essas diferenças para fortalecermos a cadeia no sentido de trazer maior equidade de gênero na repartição dos benefícios”, diz Andressa Scabin.

Sendo assim, de forma geral, o Instituto Juruá espera obter com esse projeto dados científicos que mostrem a importância econômica, social e ecológica da coleta tradicional de sementes e, com isso, fortalecer a cadeia produtiva dos óleos vegetais na região do Médio Juruá. 

Extrativistas coletando sementes. Foto: Bruno Kelly

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