COMUNICAÇÃO

O conhecimento tradicional como um importante aliado no monitoramento da fauna amazônica

Artigo publicado demonstra que o conhecimento local dos moradores da Amazônia pode ser mais eficiente que os métodos científicos clássicos para medir a abundância de animais silvestres.

Por Clara Machado

A floresta amazônica abriga uma das maiores biodiversidades do mundo. No entanto, atividades humanas como o desmatamento, o garimpo e o aquecimento global ameaçam a vida silvestre na região, e apenas estimativas precisas e atualizadas da abundância das populações animais são capazes de mensurar o impacto destas atividades na fauna. Quanto maior a velocidade de obtenção de informações de alta qualidade sobre as tendências populacionais, mais eficazes podem ser as ações de manejo e conservação.

O monitoramento da fauna é realizado por cientistas através da observação da floresta em transectos, que são áreas demarcadas por onde os pesquisadores caminham e registram todos os animais avistados. Esse método consagrado é normalmente realizado em algumas semanas consecutivas de trabalho, durante o dia e em um percurso de linha reta pela floresta.

Ao vivenciar o dia a dia junto aos moradores da Amazônia, a pesquisadora Franciany Braga-Pereira liderou um estudo em parceria com membros da diretoria e coordenação do Instituto Juruá (Carlos Peres e Eduardo Von Muhlen) e outros pesquisadores do Brasil, Peru, EUA, Inglaterra e Espanha, demonstrando que o conhecimento local pode ser um grande aliado nos monitoramentos de fauna. Neste estudo inovador, os pesquisadores percorreram mais de 7 mil quilômetros em transectos lineares e realizaram 291 entrevistas com moradores locais para comparar a abundância de animais registrados em ambos os métodos. O estudo foi realizado em 17 áreas diferentes da Amazônia, inclusive no Médio Juruá.

Foto: Aline Fidelix
Foto: Mark Bowler

Os resultados publicados na revista Methods in Ecology and Evolution mostraram uma alta similaridade na abundância estimada entre os dois métodos. Além disso, os pesquisadores apontam algumas vantagens do método de entrevistas em relação a algumas espécies que raramente são observadas em transectos, como espécies noturnas, menos abundantes ou caçadas. Em suas atividades cotidianas, como a agricultura, pesca e caça de subsistência, os moradores caminham tanto durante o dia como durante a noite, e por longos percursos, o que amplia a área de detecção para além da linha reta. A presença de um animal pode ser reconhecida através de sinais sutis no conhecimento tradicional, como pela presença de urina, pegadas e arranhões.

Desta forma, a incorporação do conhecimento tradicional nos projetos de monitoramento da vida silvestre pode melhorar significativamente a qualidade da ciência, contribuir para a sustentabilidade das florestas e empoderar comunidades a administrar os recursos naturais de seus territórios de forma autônoma.

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