Comunicação

O viver na comunidade: uma jornada de conexão e pertencimento

Por Maria Cunha

A vida na comunidade ribeirinha é uma experiência única e enriquecedora. Localizadas nas margens dos rios, essas comunidades têm uma relação intrínseca e enfrentam desafios únicos para sua subsistência. Desde crianças até idosos, todos os moradores se adaptam às peculiaridades dessa vida. As comunidades ribeirinhas são encontradas às margens de rios e lagos e  muitas vezes isoladas geograficamente pela grande distância de centros urbanos. São definidas como um grupo de pessoas que compartilham um espaço físico e emocional, com apoio, colaboração e preocupação uns com os outros, explorando os aspectos positivos e desafiadores de viver na floresta. Além disso, em uma comunidade, os moradores têm a oportunidade de compartilhar recursos, ideias e habilidades. A diversidade de talentos e conhecimentos presentes enriquece a vida de todos, permitindo que aprendam sempre uns com os outros e cresçam juntos .

Foto: Hugo Costa

As comunidades ribeirinhas, tem uma relação profunda com a natureza. A pesca, agricultura, e a coleta de recursos naturais são algumas das atividades essenciais para a subsistência e a renda das famílias dessas comunidades. Os moradores têm um conhecimento íntimo dos rios, lagos, florestas e biodiversidade local que chamamos de conhecimento tradicional. Esse conhecimento é muito importante, pois é assim que os moradores garantem a sua sobrevivência na floresta. 

Além disso, a construção e manutenção de uma comunidade requer esforço e participação ativa de todos os seus membros. É necessário investir tempo e energia para o fortalecimento dos laços comunitários, promovendo a colaboração e o cuidado do espaço compartilhado. Levando também em consideração os desafios que surgem no convívio diário.  

A rotina nas comunidades ribeirinhas é ditada pelo ritmo das águas, a cheia  e a seca, resume-se em inverno e verão, onde algumas cadeias produtivas como a extração de óleos ou o manejo do pirarucu são melhores desenvolvidas nesses contextos. Essas questões que englobam a “cheia e seca” são fenômenos que surpreendem a cada novo ano, a incerteza de como será o ano seguinte faz os comunitários serem surpreendidos  muitas vezes, perdendo produções rurais que auxiliam a renda familiar e gerando o desconforto de adaptação a uma nova rotina por período intenso.  Muitas vezes, não existe um equilíbrio, a natureza é sempre um mistério até para quem vive nela e sobrevive dela. Os moradores de uma comunidade ribeirinha, precisam sempre estar atentos a organizar estratégias para saber se adequar às mudanças naturais que nos últimos anos tem se tornado frequentes e assustadoras. 

Foto: Andressa Scabin

O impacto causado ao meio ambiente pelas ações humanas têm influenciado cada vez mais o aquecimento global do planeta, causando reações que estão afetando a qualidade de vida de todo ser humano. Este ano, o Amazonas enfrenta uma seca extrema que preocupa todo o mundo, onde os rios, que são a principal via de transporte e abastecimento de água e alimento, estão reduzindo drasticamente seu volume. A navegação fica cada vez mais difícil afetando o comércio local e dificultando o acesso a muitas comunidades  e a serviços essenciais como saúde. Além disso, a redução no fluxo dos rios compromete a sobrevivência de várias espécies de peixe e outros animais aquáticos, já que muitos ficam isolados em pequenos poços de água, sem condições adequadas para sobreviverem. A seca também favorece o avanço das queimadas na região, já que o solo mais seco e a vegetação ressecada torna-se inflamável,  isso aumenta ainda mais a destruição da floresta e compromete a qualidade do ar, afetando a saúde da população e contribuindo ainda mais para o aquecimento global.  A seca atual no Amazonas é um sinal de alerta para a necessidade de preservarmos e protegermos esse importante bioma. Essa realidade amazônica precisa ser encarada como um chamado para a ação onde o comprometimento e a responsabilidade de todos são fundamentais para lidar com essa crise climática.  

Foto: Felipe Pires

A agricultura e extrativismo são as principais atividades econômicas nas comunidades ribeirinhas. E atualmente, nas comunidades tradicionais do Médio Juruá, por exemplo, já se percebe a inclusão de ideias significativas e importantes para agregar essa renda familiar e a biodiversidade da Amazônia, vinculada ao desenvolvimento sustentável das comunidades, estamos falando da pesca manejada do pirarucu. Uma iniciativa que mudou a realidade das famílias ribeirinhas dessa região, promovendo o desenvolvimento social e ambiental por uma qualidade de vida melhor para todos.   Mas em um contexto geral comunitário, os moradores utilizam técnicas tradicionais, como a pesca com redes e tarrafas, para garantir seu sustento. Além disso, a agricultura familiar também desempenha um papel importante, principalmente na produção de alimentos como mandioca, banana e milho. A troca de produtos entre os moradores é comum, promovendo a economia local e a solidariedade entre vizinhos.  O viver em comunidade, lembra que as pessoas são parte de algo maior do que elas mesmas, a importância da empatia, da solidariedade e do respeito mútuo é fluente. E a organização comunitária vinculada a suas lideranças por  algo que visa alcançar objetivos e criar ambiente acolhedor e harmonioso. 

A educação nas comunidades é um desafio, mas também uma oportunidade de aprendizado. Muitas vezes, as escolas estão localizadas em regiões distantes, o que exige dos alunos longas caminhadas ou deslocamentos de barco ou canoa para chegar até lá. Essa é uma realidade de algumas comunidades ribeirinhas falando de um contexto geral, porém muita coisa já foi superada com  o passar dos anos com a determinação e o apoio das famílias, professores e apoiadores, que entendem a importância da educação para o futuro das gerações. Devido ao isolamento geográfico, as comunidades ribeirinhas, muitas vezes enfrentam desafios de infraestrutura. A falta de acesso a serviços básicos, como eletricidade, água potável e saneamento são realidades bem comuns entre elas. Atualmente algumas comunidades do Médio Juruá com apoio institucional, organização comunitária e projetos sociais já conseguiram um grande avanço no desenvolvimento, incluindo esses contextos de educação, saneamento, infraestrutura, e acesso a benefícios sociais. Isso possibilitou que comunidades ribeirinhas da Amazônia hoje, tenham novos conceitos de definição.

A cultura local é uma grande aliada no conhecimento tradicional dos moradores, uma cultura de ver na medicina da floresta, uma cura. Apesar disso, a dificuldade de acesso a serviços de saúde também é um desafio enfrentado pelos moradores. Políticas públicas que visem maior atenção à saúde dos povos tradicionais comunitários ainda são pouco acessíveis. Em sua grande maioria, os moradores só contam com um agente comunitário de saúde capacitado e precisam sempre ir buscar recursos maiores na cidade quando necessário, Isto inclui medicamentos e médicos. O que apesar dos avanços ainda é uma realidade de muitas comunidades. 

O transporte é outro grande desafio enfrentado pelas comunidades ribeirinhas. Sendo que a principal via de acesso é fluvial e essa é a principal forma de deslocamento, e muitas vezes é necessário percorrer longas distâncias para acessar serviços básicos e oportunidades. Além disso, a comunicação também é limitada, com pouca ou nenhuma cobertura telefônica e de internet. Porém, atualmente o uso da conectividade já é uma realidade em algumas comunidades, mas ainda assim é um processo limitado. Isso possibilita  que as comunidades possam ter acesso a notícias do mundo todo, acessar plataformas educativas e até realizar alguns trabalhos. 

A preservação ambiental é um fator importante, as comunidades ribeirinhas dependem diretamente dos recursos naturais ao seu redor para a sua subsistência. Por isso, a preservação ambiental e a sustentabilidade são aspectos fundamentais. A conscientização sobre a importância da conservação dos ecossistemas e a adoção de práticas sustentáveis são essenciais para garantir a sobrevivência das comunidades ribeirinhas a longo prazo. E esses ensinamentos são parte da cultura de quem nasce e se desenvolve morando na floresta, hoje adotadas a práticas sustentáveis as comunidades conseguem ter uma visão melhor de que não só comunitários, são guardiões de uma riqueza natural que engloba uma gigante chamada Amazônia. Essas comunidades têm uma forte ligação com a terra. A natureza é respeitada e valorizada, e os ribeirinhos entendem a importância de preservar para garantir a sua própria sustentabilidade. A cultura ribeirinha é rica e diversificada. Os moradores preservam tradições ancestrais, transmitindo de geração em geração danças, cantigas e lendas. Os festejos comunitários são muito comuns, e geralmente é um santo padroeiro que a comunidade considera. O vínculo entre os membros da comunidade é fortalecido pelas festas e celebrações que ocorrem ao longo do ano. Nesses momentos, os laços de pertencimento são fortalecidos. O sentimento de comunidade é tão profundo que cada indivíduo se vê como parte de algo maior contribuindo para o bem-estar de todos.

Foto: Hugo Costa

Para superar grandes desafios é fundamental que as políticas públicas reconheçam e valorizem o papel dessas comunidades na conservação ambiental, oferecendo suporte e incentivo para o desenvolvimento sustentável. Investir em programas de educação e capacitação é essencial para fortalecer a autonomia e melhorar as condições de vida dos ribeirinhos.

O viver na comunidade ribeirinha, uma jornada de conexão e pertencimento, é onde os laços sociais e a relação com a natureza são fundamentais.  É uma jornada que nos ensina sobre cooperação, resiliência e valorização das tradições, promovendo um senso de união e harmonia que são essenciais para o bem-estar coletivo. Essa vivência é estar imerso em uma teia de relações sociais estreitas, onde todos se conhecem e se apoiam mutuamente. Existe um senso de pertencimento muito forte, onde cada indivíduo é valorizado. Essa convivência próxima e colaborativa fortalece os laços entre as pessoas, criando uma rede de apoio que se estende além do aspecto social, abrangendo também questões econômicas e culturais. Aprende-se constantemente sobre adaptabilidade. As adversidades são enfrentadas em conjunto, fortalecendo o espírito comunitário e a capacidade de superação. Aprendendo a valorizar as tradições ancestrais, as histórias compartilhadas e os saberes transmitidos de geração em geração.  Preservar e valorizar essas comunidades é essencial para garantir um futuro sustentável para todos. É necessário que a sociedade reconheça a importância dessas comunidades e trabalhe em conjunto para construir um mundo mais justo e igualitário. 

Foto: Felipe Pires

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