Entre os dias 6 e 14 de novembro, aconteceu a terceira contagem de pirarucu em Itamarati, e representantes do município participaram do Encontro de Lideranças, troca de experiências promovida pela AMARU.
Por Clara Machado e Camila Figueiredo
Para que o manejo do pirarucu seja implementado em uma nova área, é necessário que os corpos d’água dessa região estejam sob as regras de algum tipo de ordenamento pesqueiro. Uma das regras para viabilizar este manejo é a proteção e monitoramento de parte dos lagos por, no mínimo, três anos consecutivos, visando garantir o aumento do número de peixes antes que os anos de pesca se iniciem.
Em geral, o ordenamento pesqueiro se dá pela delimitação de áreas de uso específico e criação de regras de uso e proteção dos lagos. Caso a área esteja fora das delimitações de unidades de conservação, é preciso legalizar um Acordo de Pesca, que envolve todos os agentes interessados no uso dos ambientes.
Cerca de 20 comunidades do município de Itamarati (AM) estão passando por esse processo inicial com o apoio técnico e financeiro do Instituto Juruá. Os três anos de vigília dos lagos, na maioria das vezes sem poder usá-los para pesca, costuma ser um momento delicado para as comunidades envolvidas, pois toda essa dedicação e trabalho não é de retorno imediato. Por isso, é importante ter a perspectiva de que esses anos serão recompensados futuramente, quando o manejo for iniciado e se tornar uma fonte de renda fixa e sustentável aos manejadores e manejadoras.
As comunidades em Itamarati estão firmes neste propósito. Entre os dias 6 e 14 de novembro de 2022, aconteceu a terceira contagem de pirarucus nos lagos na região. Foram nove comunidades envolvidas na contagem de vinte lagos. E os números mostram que os três anos de monitoramento e vigilância deram resultado.
“No ano de 2020, começamos trabalhando com sete comunidades contando sete lagos. Na terceira contagem, em 2022, teve um aumento muito gratificante, tanto na parte do interesse das comunidades em proteger mais lagos, como no número de peixes. Nesse período de três anos, a gente já tem o aumento de 1.235 peixes contados no total, e temos lagos que já tem capacidade para serem manejados assim que for oficializado o Acordo de Pesca”, afirma Edimar Costa, Técnico em Produção Sustentável do Instituto Juruá e que colaborou com o apoio técnico na contagem em Itamarati.
A contagem contou com a participação da Associação Ambiental, Extrativistas, Pescadores e Produtores Rurais de Itamarati (AAEPPRI), Secretaria Municipal de Meio Ambiente e Turismo de Itamarati, Colônia de Pescadores Z-59 de Itamarati, Instituto Juruá e de todas as comunidades envolvidas, com uma inédita e representativa adesão das mulheres.
Moradores de comunidades manejadoras experientes do município de Carauari também colaboraram. “Pessoas das comunidades do Lago Serrado, Xibauazinho, Xibauá, já fazem esse trabalho há algum tempo e tem uma vasta experiência, por isso a gente levou eles para orientar e fazer uma troca de experiência e de conhecimento, incentivando os moradores das comunidades de Itamarati, para que possam se sentir motivados para que esse trabalho cresça na sua região”, acrescenta Edimar.
Nerinho Santos, presidente da AAEPPRI, afirma que a comunidade está animada com o resultado da última contagem “Essa contagem foi muito boa, estamos otimistas que muito em breve o manejo será feito também em Itamarati. Estamos lutando para que isso aconteça. Quando a gente protege o lago, lá tem a renda, lá tem o banco, lá tem a poupança.”
A iniciativa das comunidades de Itamarati conta com o apoio das experientes organizações de base do Médio Juruá. A Associação dos moradores Agroextrativista da Reserva de Desenvolvimento Sustentável Uacari (AMARU) convidou os parceiros de Itamarati para o Encontro de Lideranças, realizado nos dias 17 e 18 de dezembro de 2022, no Núcleo Berta Becker no Campina, zona rural de Carauari (AM).
O objetivo do encontro foi fomentar a gestão das lideranças comunitárias. A troca de experiências com outras comunidades e associações é fundamental para o sucesso da implementação do manejo comunitário em Itamarati. Estiveram presentes no encontro representantes de três comunidades de Itamarati (Nova Olinda, Walterburi e Cantagalo), o vice-presidente da AAEPPRI, e o jovem Teves Benevides do município de Itamarati, representando tanto a AAEPPRI como a juventude do município.
A expectativa é de que a homologação do Acordo de Pesca ocorra no primeiro semestre deste ano. “Já temos algumas áreas com até quatro anos de contagem, estamos retomando agora após o processo eleitoral, falta ainda uma reunião coletiva e a homologação do Acordo de Pesca junto a Secretaria de Estado do Meio Ambiente do Amazonas, que esperamos que ocorra ainda neste primeiro semestre”, afirma Eduardo Von Muhlen, Coordenador de Práticas em Conservação do Instituto Juruá, que atua na expansão do manejo do pirarucu para Itamarati.