COMUNICAÇÃO

Pesquisadoras do Instituto Juruá participam de primeira expedição do projeto Guardiões do Rio: conservação de base comunitária da megafauna aquática amazônica

Pesquisadoras do Instituto Juruá passaram 38 dias embarcadas, percorrendo comunidades para a realização de entrevistas com os moradores. Ao todo, foram visitadas 22 comunidades da região do Médio Juruá, com 284 pessoas entrevistadas entre 18 de maio e 26 de junho deste ano. 

Por Letícia Araújo

No início deste ano, o Instituto Juruá lançou o projeto “Guardiões do Rio” com o objetivo de pesquisar a megafauna aquática da Amazônia. Este trabalho é liderado por João Campos-Silva, que é Explorer da National Geographic e laureado pela Rolex, como também pela Explorer Andressa Scabin, e faz parte da Perpetual Planet Amazon Expedition, da National Geographic e Rolex, uma expedição de dois anos que apóia uma série de estudos de pesquisa científica e uma jornada de contação de histórias ao longo de toda a bacia amazônica, desde a Cordilheira dos Andes até o Atlântico. Como parte da Perpetual Planet Amazon Expedition, Campos-Silva, Scabin e outros pesquisadores do Instituto Juruá realizaram entrevistas individuais com moradores locais para entender sua relação com seis espécies da megafauna aquática da Amazônia e investigar se mudanças nas populações dessas espécies aconteceram no ambiente ao longo do tempo. 

Equipe de pesquisadoras do Instituto Juruá realiza entrevistas sobre a reconstrução histórica da megafauna aquática da Amazônia para o projeto Guardiões do Rio (Foto: Sayori Minato).

Este projeto está atualmente na fase de reconstrução histórica das espécies de megafauna. “Nessa etapa a gente consegue saber também o quanto essas pessoas conhecem de fato o lugar, porque perguntamos quando começou a frequentar determinado local e quando parou de frequentar ou se ainda frequenta”, explica Gabriela Vedovello, uma das cientistas que participaram da expedição. “Dessa forma dá pra termos uma dimensão de se a pessoa notaria as mudanças ambientais naquele local com o passar do tempo ou não”. 

As entrevistas com os moradores da região trazem o ponto de vista de quem percebe e vivencia de perto as mudanças que ocorrem no meio ambiente – uma perspectiva essencial para entender esse processo.  

“Percebi que o meu papel enquanto cientista é dar voz a essas pessoas e fazer o possível para que o resto do mundo entenda a importância dos povos e conhecimentos tradicionais. São pessoas com uma inteligência gigantesca, que conhecem muito mais do que eu jamais vou conhecer sobre a vida na floresta amazônica”, acrescenta Gabriela. “Para mim, a ciência moderna não faz sentido sem o reconhecimento e valorização dos conhecimentos tradicionais, e me sinto muito feliz de fazer parte de um projeto que conta com esse reconhecimento”. 

Pesquisadora Gabriela Vedovello, ao lado de Antonia Rosa Matos, realizando entrevistas no Médio Juruá (Foto: Sayori Minato).

 Segundo Nathália Messina, uma das pesquisadoras que apoiou a coordenação da expedição, as 22 comunidades visitadas ficam distribuídas entre duas Unidades de Conservação (UCs), a RDS Uacari e a RESEX Médio Juruá; além de uma área fora das UCs, que é contemplada por um acordo de pesca. Os moradores já estão familiarizados com a presença de pesquisadores na região: a área possui diversas organizações e associações, como o Instituto Juruá, com atuações constantes. Mesmo assim, a equipe manteve a prática rotineira de conversar com cada comunidade antes de iniciar as atividades no local.  

“O que a gente fazia ao chegar na comunidade era sempre ir até a casa da liderança e explicar o que pretendíamos fazer nas comunidades […] então explicávamos tudo isso numa reunião com membros da comunidade e pedíamos autorização pra liderança e para os comunitários para visitar as casas deles realizando as entrevistas”, esclarece Lívia Cruz, uma das biólogas responsáveis pela expedição. “A maioria fica feliz de dar entrevista e percebe a atuação do Instituto como super positiva na região, então isso facilita bastante também”.

Pesquisadora Lívia Cruz realizando entrevistas no Médio Juruá (Foto: Sayori Minato).

Além da produção de um rico material científico, a viagem foi uma oportunidade de realização pessoal de cada uma das participantes. Sayori Minato, bióloga que também atuou fazendo o registro audiovisual da expedição, realizou um desejo: “A expedição foi a realização de um sonho. Desde que me lembro já dizia que um dia iria para o Amazonas, e nos meus sonhos mais grandiosos, que iria estar trabalhando dentro da floresta e conhecendo a cultura e os povos da floresta. Como bióloga e fotógrafa, estar esse tempo todo em contato com as comunidades ribeirinhas, ouvindo suas histórias e conhecimento foi muito emocionante. Sei que essa vivência me modificou e ainda continua reverberando aqui dentro, tem mudado minha forma ver o mundo tanto pessoal como profissionalmente. Tenho certeza que serei uma bióloga e fotógrafa melhor por conta dessas trocas.”  

Já Lívia, que visitou a floresta em uma época do ano diferente, se surpreendeu com as diferenças no ecossistema: “Nessa segunda expedição, presenciei o rio cheio e a vazante. Foi uma experiência incrível! Fiquei deslumbrada mais uma vez e de um jeito novo… os igarapés cheios, as baldadas de açaí, o barco passando nos furos estreitos, como que transpondo a floresta.” 

Video: Sayori Minato

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